sexta-feira, 13 de junho de 2008

A escolástica pós-tomista


Grandes acontecimentos históricos marcaram a Europa nos séculos XIII e XIV, entre eles, estão a Guerra dos Cem anos, entre a França e a Inglaterra; a epidemia da peste bubônica, que matou cerca de três quartos da população européia; o cisma definitivo entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente, que, entre outros fatores, diminuiu a influencia da Igreja Católica Romana sobre o poder temporal (o estado) e sobre a população; a criação de novas universidades, que iniciam o desenvolvimento de questões relativas às ciências naturais e a autonomia da filosofia em relação à teologia. Levarão ao questionamento do pensamento escolástico bem como ao fim da Idade Média.
Os pensadores pós tomistas abriram cainho para a ciência moderna.
Entre os filósofos significativos desse período, destacam-se:
São Boaventura (1240-1284) –iniciou uma reação contra a filosofia tomista e buscou recuperar a tradição platônica agostiniana.
Roberto Grosseteste (1168-1243) e Roger Bacon (1214-1292) – iniciaram uma investigação experimental no campo das ciências naturais que abriu caminho para a ciência moderna.
Guilherme de Ockham (1280-1349)-Proclamou uma distinção absoluta entre fé e razão. De acordo com Ockham, a filosofia não é serva da teologia e a teologia não pode sequer ser considerada ciência, pois é tão somente um corpo de proposições mantidas não pela coerência racional, mas pela força da fé. Pensador empirista e nominalista, Ockham combateu a metafísica tradicional e iniciou o método da pesquisa cientifica moderna.

Santo Tomás de Aquino: a cristianização de Aristóteles


Santo Tomás de Aquino é a figura mais destacada do pensamento cristão medieval. Elaborou os princípios da doutrina cristã numa síntese filosófica que teve como base o pensamento de Aristóteles, através das traduções de Averróis, filósofo árabe.
Tomás de Aquino (1226-1274), nasceu em Nápoles, sul da Itália, e faleceu no convento Fossanuova, próximo de sua cidade natal, aos 49 anos de idade. É considerado o maior filósofo da escolástica medieval.
A filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo), nasceu com objetivos claros: não contrarias a fé. A finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.
Reviveu em grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de nele buscar os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da religião católica.
Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. Ressaltou uma série de princípios considerados básicos:

Principio da não contradição –O ser é ou não é. Não existe nada que possa ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.
Principio da substância – na existência dos seres podemos distinguir a substancia ( a essência, propriamente dita, de uma coisa, sem a qual ela não seria aquilo que é), do acidente (a qualidade não essencial, acessória do ser);
Principio da causa eficiente - todos os seres que captamos pelos sentidos são seres contingentes, isto é. Não possuem, em si próprios, a causa eficiente de suas existências. Para existir, o ser contingente depende de outro ser, chamado de ser necessário.
Principio da finalidade – todo ser contingente existe em função de uma finalidade, de um objetivo, de uma razão de ser.
Principio do ato e da potência – todo ser contingente possui duas dimensões: o ato e a potência. O ato representa a existência atual do ser, aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade real do ser, aquilo que não se realizou mas pode realizar-se. É a passagem da potência para o ato que explica toda e qualquer mudança.
O filósofo escolástico empreendeu foi uma sistematização da doutrina cristã que se apóia em parte na filosofia aristotélica, mas que contém muitos elementos estranhos ao aristotelismo . o conceito de criação de um deus [único, a idéia de que o vir-a-ser , não é autodeterminado,mas precede de Deus.
Santo Tomás introduziu uma distinção entre o ser e a essência, dividindo a metafísica em duas partes: a do ser em geral e a do ser pleno que é Deus.
Deus é ato puro, não há o que se realizar ou se atualizar em Deus, pois ele é completo. Ele dirá que Deus é ser, ou seja, Deus é o Ser que existe como fundamento da realidade das outras essências que, uma vez existentes participam de seu Ser.
O Ser é diferente da essência, pois as criaturas são seres não necessários. É Deus que permite ás essências realizarem-se em entes, em seres existentes.

As provas da existência de Deus

Outro aspecto fundamental da filosofia tomista é a prova da existência de Deus. Em um de seus mais famosos livros, a Suma teológica, Santo Tomás propõe cinco provas da existência de Deus:
O primeiro motor – tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para que se mova, necessita também que seja movido por outro ser. E assim sucessivamente. Logo, conclui Tomás de Aquino, é necessário chegar a um primeiro ser movente, que não seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus.
A causa eficiente – todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser considerados efeitos de alguma causa. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus.
Ser necessário e ser contingente – este argumento é uma variante do segundo. Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em função de algo que já existia. É preciso admitir, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus.
Os graus de perfeição – em relação à qualidade de todas as coisas existentes, pode-se firmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim afirmamos que tal coisa é melhor que outra, ou mais bela, ou mais poderosa, ou mais verdadeira. Se uma coisa possui “mais ou menos” determinada qualidade positiva, isso supõe que deve existir um ser com o máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Um ser máximo e pleno. Esse ser é Deus.
A finalidade do ser – todas as coisas brutas que não possuem inteligência própria. Existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir, então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo. Esse ser é Deus.

Esse mérito de Tomaz de Aquino, o proclamou, pela Igreja católica, como o "Doutor Angélico" e "Doutor por Excelência". Tomás de Aquino é permanentemente reverenciado nos meios católicos pelos filósofos e professores de filosofia. No entanto, filósofos não cristãos, como Bertrand Russell questionam os méritos filosóficos de Tomás de Aquino, considerando-os insuficientes para justificar sua imensa reputação.Em que pese essa discordância de opiniões sobre os méritos de Tomás de Aquino, é praticamente unânime o reconhecimento de que sua obra filosófica representou o apogeu do pensamento medieval católico. O tomismo, entretanto, foi sendo progressivamente questionado pelos movimentos filosóficos que se desenvolveram na Renascença e na Idade Moderna.

Escolástica: os caminhos de inspiração aristotélica até Deus


No século VIII Carlos Magno organizou o ensino e fundou escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então voltou a ser divulgada, passando a ter uma influencia mais marcante nas reflexões da época. Era o período da – renascença carolíngia
Tendo a educação romana, como modelo, começaram a ser ensinadas meterias como gramática, retórica e dialética (o trivium) e geometria, aritmética, astronomia e música ( o quadrivium). Todas submetidas à teologia.
No ambiente cultural dessas escolas e das primeiras universidades do século XI , surgiu uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola).
A partir das traduções e comentários feitos pelos filósofos árabes que as obras de física, metafísica e ética passaram a ser conhecidas na Europa.
Filósofos árabes como Avicena e Averróis foram muito importantes na divulgação das obras de Aristóteles. Isso ocorreu porque, a partir do século VI, os árabes iniciaram uma série de guerras religiosas, buscando difundir o islamismo. Dessa forma conquistaram parte do Oriente e entraram em contato com a cultura grega, que influenciava essas religiões. Desde as conquistas de Alexandre Magno. Em 711, os árabes conquistaram parte da península Ibérica e a partir dessa região, passaram a exercer um influencia notável sobre vários setores da cultura européia, tanto na arquitetura como na literatura, nas ciências e na filosofia.
Renascença carolíngia –refere-se ao estímulo dado `atividade cultural (letras,artes, educação), que marcou o governo de Carlos Magno. A obra realizada nessa época muito contribuiu para a preservação e a transmissão da cultura da Antiguidade clássica.
No período escolástico, a busca de harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Pode ser dividida em três fases:
Primeira fase – (do século IX ao fim do século XII), caracterizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
Segunda fase – ( do século XIII ao principio do século XIV) –caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de Tomás de Aquino. A harmonização entre fé e razão pode ser parcialmente obtida.
Terceira fase –(do século XIV até o século XVI)- decadência da escolástica, caracterizada pela afirmação das diferenças fundamentais entre fé e razão.

Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a referencia às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no estudo da lógica.
Um dos principais filósofos que contribuiu para o desenvolvimento dos estudos lógicos foi Boécio que, embora tenha vivido de 480 a 524, é considerado o primeiro dos escolásticos, ele aperfeiçoou o quadrado lógico, sistema de relações entre afirmativas que fornece a base lógica para garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Foi o primeiro a introduzir a questão dos universais , problema filosófico longamente discutido por todo o período da escolástica.

A questão dos universais: o que há entre as palavras e s coisas

O método escolástico de investigação, privilegiava o estudo da linguagem para depois passar para o exame das coisas. Desse método surgiu a seguinte pergunta: Qual a relação entre as palavras e as coisas?
Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre , a palavra rosa continua existindo, nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma idéia geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o filosofo neoplatônico Porfírio (234-305, aproximadamente), em sua obra Isagoge.
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das idéias gerais.isto é, os chamados universais de Aristóteles, tal discussão ficou conhecida como a questão dos universais, isto é, da relação entre as coisas e seus conceitos, e envolvia problemas lingüísticos e gnoseológicos (relativos `a questão do conhecimento, também teológicos.
Surgiram duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo.
O realismo, sustentava a tese de que os universais existiam de fato, as idéias universais existiriam por si mesmas, Assim, por exemplo, a bondade, a beleza, seriam modelos ou moldes a partir dos quais se criariam as coisas boas e as coisas belas. Os termos universais seriam entidades metafísicas, essências separadas das coisas individuais.
Posição defendida por Santo Anselmo(1035-1109), que acreditava que as idéias universais existiriam na mente divina. O filosofo e bispo francês Guilherme de Campeaux(1070-1121), também era realista e acreditava que entre o universo das coisas e o universo dos havia uma analogia .
O Nominalismo, sustentava a tese de que os termos universais, tais como beleza, bondade etc. não existiriam em si mesmos, pois seriam apenas palavras se uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres singulares, e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.
Essa era a posição do filósofo francês Roscelin de Compiègne ( 1050-1120), segundo o qual só existia a individualidade. Roscelim também negava que Deus pudesse ser uno e trino ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma individualidade separada.
Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo moderado sustentado por Pedro Abelardo(1079-1142).
Filosofo de grande prestigio, Pedro Abelardo, desenvolveu a reflexão no campo da lógica e mostrou-se um humanista no campo da ética. Em relação à teologia, acreditava que ara necessário “ entender par crer” , cultivando a razão crítica, o que suscitou ásperas polemicas com os pensadores conservadores de seu tempo.
De acordo com Abelardo, só existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a geral os conceitos universais. Tais conceitos não seriam de acordo com Abelardo, nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do nominalismo), e sim discursos mentais, categorias lógico-linguisticas que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. A importância da questão dos universais está no avanço que essa discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento lógico-linguistico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em relação à teologia, por volta do século XII.

Santo Agostinho: A certeza da razão por meio da fé


Aureliano Agostinho (354-430), nasceu em Tagaste, província romana situada na África e faleceu em Hipona, hoje localizada na Argélia. Nesta cidade ocupou o cargo de bispo da Igreja católica . até completar 32 anos Agostinho não era cristão. Teve uma vida voltada aos prazeres do mundo. De uma ligação amorosa ilícita para a época, nasceu-lhe o filho Adeodato.
Em sua formação intelectual, Agostinho sentiu-se despertado para a filosofia pela leitura de Cícero. Deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal. Mantendo uma incessante luta entre si.
Mais tarde, viajou para Roma e Milão, entrando em contato com o ceticismo e, depois com o neoplatonismo, movimento filosófico do período greco-romano, inspirados em Platão, que se espalhou por diversas cidades do Império Romano, marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Agostinho nesse período se encontrou com Santo Ambrósio, bispo de Milão, sentindo-se extremamente atraído por suas pregações. Converteu-se ao cristianismo, tornando-se seu grande defensor pelo resto da vida.
Agostinho defendeu a superioridade da alma humana, isto é,a supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. A alma teria sido criada por Deus para reinar sobre o corpo, para dirigi-lo à prática do bem. A verdadeira liberdade estaria na harmonia das ações humanas com a vontade de Deus. Ser livre é servir a Deus, pois o prazer de pecar é a escravidão.
Segundo o filósofo, o homem que trilha a via do pecado só consegue retornar aos caminhos de Deus e da salvação mediante a combinação de seu esforço pessoal de vontade e a concessão, imprescindível, da graça divina. Sem a graça divina de Deus, o homem nada pode conseguir. E nem todas as pessoas são dignas de receber essa graça, mas somente alguns eleitos predestinados à salvação.
Obs. – Cícero (106-43aC.) –Orador e político romano que se inspirou no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista ,etc. entre os neoplatônicos, citam-se Platino (205-270) e Proclo (411-485).
De acordo com a doutrina da graça de Agostinho, a salvação não depende das boas ações dos indivíduos, mas da vontade de Deus para escolher os seus eleitos.

Na época de Agostinho, outro teólogo, Pelágio , afirmava que a boa vontade e s boas obras humanas seriam suficientes para a salvação individual. Era a doutrina do pelagianismo.
No concílio de Cartago do ano de 417, o papa Zózimo condenou o pelagianismo como heresia e adotou a concepção agostiniana da necessidade da graça divina,doada livremente por Deus aos seus eleitos.
O pelagianismo não podia ser adotado pela igreja católica porque conservava a noção grega da autonomia de vida moral humana, isto é, a noção de que o homem pode salvar-se por si só, sendo bom e fazendo boas obras, sem a necessidade da ajuda divina. Essa noção se chocava com a idéia de submissão total do homem ao Deus cristão, defendida pela Igreja.
Enquanto na filosofia grega o individuo se identifica com o cidadão. A filosofia cristã enfatiza no individuo sua vinculação pessoal com Deus.
Outro aspecto fundamental da filosofia agostiniana é o entendimento de que a vontade é uma força que determina a vida e não uma função especifica ligada ao intelecto.
Agostinho contrapõe-se, dessa forma, ao intelectualismo moral, que teve sua expressão máxima em Sócrates.
Isso significa que, de acordo com Santo Agostinho, a liberdade humana é própria da vontade e não da razão. E é nisso que reside a fonte do pecado.
O individuo peca porque usa de seu livre-arbitrio para satisfazer sua vontade, mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa. Por isso, Santo Agostinho afirma que o homem não pode ser autônomo em sua vida moral, isto é, deliberar livremente sobre sua conduta. Como o que conduz seus atos é a vontade e não a razão, o homem pode querer o mal, razão pela qual ele necessita da graça divina para salvar-se.
Agostinho também discutiu a diferença existente entre fé cristã e razão, afirmando que a fé nos faz crer em coisas que nem sempre entendemos pela razão.Dizia ser necessário crer para compreender, pois a fé ilumina os caminhos da razão, e que a compreensão nos confirma a crença, posteriormente. Para Agostinho, a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.
Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista , simbolizada pela luta entre o bem e o mal., a luz e as trevas, a alma e o corpo.
Insistia em que já nascemos pecadores (pecado original), e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência “natural” considerando o mal como o afastamento de Deus, defendendo a necessidade de uma intensa educação religiosa, tendo como finalidade reduzir essa distância.
Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados dos sentidos.
Do neoplatonismo, Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser buscada intelectualmente no “mundo das idéias” . Com o cristianismo, defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade.

A Filosofia medieval e o cristianismo


Em meio ao esfacelamento do Império, decorrente, em grande parte, das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição social, consolidou sua organização religiosa e difundiu o cristianismo, preservando, também, muitos elementos da cultura greco- romana. Apoiada em sua crescente influencia religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade medieval. Desempenhou a função de conciliadora das elites dominantes, contornando os problemas das rivalidades internas da nobreza feudal. Conquistou, também, vasta riqueza material: tornou-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental.


No plano cultural, a Igreja exerceu ampla influência, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o pré-suposto da vida espiritual.
Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e interpretadas segundo a autoridade da Igreja.
De acordo com a doutrina católica a fé representava a fonte mais elevada das verdades reveladas – Afirmava Santo Ambrósio (340-397, aproximadamente): Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo.
Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de modo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia sido revelada por Deus aos homens. Restava-lhes, demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Religiosos desprezavam a filosofia grega, sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia.
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam o conhecimento da filosofia grega, sentindo a possibilidade de utiliza-la como instrumento a serviço do cristianismo. O objetivo era convencer os descrentes, pela razão para depois faze-los aceitar a imensidão dos mistérios divinos.
Nesse contexto, a filosofia medieval pode ser dividida em quatro momentos principais:
Padres apostólicos – do início do cristianismo (século I e II), entre os quais se incluem os apóstolos, que disseminavam a palavra de Cristo, sobretudo em relação aos temas morais. Entre estes se destaca a figura de São Paulo pelo volume e valor literário de sua epístolas ( cartas escritas por um dos apóstolos);
Padres apologistas (século III e IV), que faziam a apologia do cristianismo contra a filosofia pagã. Destacam-se : Orígenes, Justino e Tertuliano, o mais intransigente na defesa da fé contra a filosofia grega.
Patrística ( de meados do século IV ao século VIII), no qual se busca uma conciliação entre a razão e a fé e se destacam a figura de Santo Agostinho e a influência da filosofia platônica;
Escolástica ( do século IX a XVI), no qual se buscou uma sistematização da filosofia cristã, a partir da interpretação da filosofia de Aristóteles e se destaca a figura de Santo Tomás de Aquino.
A característica fundamental dessa filosofia medieval é a ênfase nas questões teológicas, como o dogma da Trindade, a encarnação de Deus-filho, a liberdade e a salvação, a relação entre fé e razão.

Os dois momentos mais importantes da filosofia medieval – a patrística e a escolástica.

Período greco-romano: a filosofia pagã e a penetração do cristianismo

O último período da filosofia antiga, conhecido como greco-romano, corresponde, em termos históricos, à fase de expansão militar de Roma (desde as Guerras Púnicas, iniciadas em 264 aC. Até a decadência do Império Romano, em fins do século V da era cristã).
Os principais pensadores desse período, como Sêneca, Cícero, Plotino, Plutarco, dedicaram-se muito mais à tarefa de assimilar e desenvolver as contribuições culturais herdadas principalmente da Grécia clássica do que de criar novos caminhos para a filosofia.
A progressiva penetração do cristianismo, no decadente Império Romano é ma da características fundamentais desse período.
A difusão e a consolidação do cristianismo, através da Igreja católica, atuaram no sentido de dissolver a força da filosofia grega clássica, que passou a ser qualificada de pagã ( própria dos povos não cristãos).

Sêneca, filósofo romano que desenvolveu a filosofia estóica. Para ele, a principal causa do sofrimento humano é a fraqueza de vontade que nos leva à cobiça, inveja, crueldade, ambição etc. Segundo Sêneca, a pessoa que domina sua vontade comanda seu destino; quem não domina sua vontade é arrastado pelo destino.

Helenismo: o mundo da solidão humana

Com a conquista da Grécia pelos macedônicos (322aC.), tem início o chamado período helenístico. Devido á expansão militar do Império Macedônico, efetuada por Alexandre Magno, o período helenístico caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados.
Na historia da filosofia, a produção filosófica do período helenístico corresponde basicamente à continuação das atividades das escolas platônica.
Há uma transformação em relação ao passado nesse período. Os valores gregos mesclam-se com as mais diversas tradições culturais. E o cidadão não pode mais influir na vida política.
Com o declínio da importância da participação do cidadão nos destinos da cidade, a reflexão política é abandonada pela filosofia, substitui-se, assim, a vida pública pela privada como centro de reflexões. As preocupações coletivas cedem lugar às preocupações individuais.
As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade da vida interior do homem. Formulam-se, então, diversas regras de conduta. “ artes de viver” “filosofias de vida” . a principal preocupação dos filósofos é proporcionar aos indivíduos desorientados alguma forma de paz de espírito, alguma forma de felicidade interior.
Entre as novas tendências que surgiram, registramos a fundação de escolas filosóficas como:
O estoicismo – de Zenão de Cítio (336-263 aC.), Os estóicos, defendiam uma atitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo termo grego apathéia (apatia), era alcançar uma serenidade diante dos acontecimentos.
O epicurismo – de Epicuro (324-271 aC.), propunha a idéia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida., pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. O supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres.
O pirronismo – de Pirro de Elida (365-275 aC.), Nenhum conhecimento é seguro, tudo é incerto, o pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena. O pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta;O cinismo – o termo cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”, e designa a corrente dos filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o” Sócrates demente”, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos.

Aristóteles de Estagira


Do nascimento da lógica à ordenação do universo.

O ser se exprime de muitos modos, mas
Nenhum modo exprime o ser.
O ser se diz em vários sentidos. Aristóteles.

Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles (384-322 aC.), foi um dos mais importantes filósofos gregos de Antiguidade. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe sua genial contribuição, que influenciou decisivamente, a história do pensamento ocidental.
Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, herdou do pai o interesse pelas ciências naturais. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de vinte anos.
Com a morte de Platão, a destacada competência de Aristóteles o qualificava para assumir a direção da Academia. Seu nome foi preterido por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.
Decepcionado com o episódio, deixou a Academia Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345aC. Foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia para ser professor de seu filho Alexandre. O relacionamento de Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império Macedônico, 340 aC.
Por volta de 335 aC. Aristóteles regressou a Aténs, fundando sua própria escola filosófica.que passou a ser conhecida como Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lício.
Em 323 aC. Após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação co a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido, foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” ( a primeira vez teria sido com Sócrates.
Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão cientifica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio.

Da sensação ao conceito: O discípulo discorda do mestre

Segundo Aristóteles, a finalidade básica das ciências seria desvendar a constituição essencial dos seres, procurando defini-la em termos reais. Reconhecia a multiplicidade dos seres percebidos pelos sentidos. Assim, tudo o que vemos, pagamos, ouvimos e sentimos é aceito como elemento da realidade sensível.
Rejeitava a teoria das idéias de Platão. Para Aristóteles, a observação da realidade leva-nos à constatação da existência de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são captados por nossos sentidos.
Partindo dessa realidade sensorial – empírica- a ciência deve buscar as estruturas essenciais de cada ser. Em outras palavras, a partir da existência do ser, devemos atingir a
sua essên cia, através de um processo de conhecimento que caminha do individual e específico para o universal e genérico.
O objeto próprio das ciências é a compreensão próprio das ciências é a compreensão do universal, visando o estabelecimento de definições essenciais, que possam ser utilizadas de modo generalizado.
A Indução (operação mental que vai do particular para o geral), representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento.
Assim, por exemplo, o conceito escola – ou qualquer conclusão cientifica sobre esse conceito – foi elaborado tendo como base a observação sistemática das diferentes instituições às quais se atribui o nome de escola. Dessa maneira, o conceito escola tem sentido universal porque, reúne em si a estrutura essencial aplicável ao conjunto das múltiplas escolas concretas existentes no mundo.

A nova interpretação para as mudanças do ser

Aristóteles, propôs uma nova interpretação ontológica, (relativa ao estudo do ser), segundo a qual em todo ser devemos distinguir:
O ato – A manifestação atual do ser aquilo que já existe;
A potência – As possibilidades do ser (capacidade do ser), aquilo que ainda não é mas pode vir a ser.
Conforme Aristóteles, o movimento e a transitoriedade ou mudança das coisas se resumem na passagem das potencia para o ato.
Exemplo: a árvore que está sem flores pode tornar-se, com o tempo, uma árvore florida.
Por outro lado, utilizando ainda o exemplo da arvore, pode acontecer que em virtude de
certas condições climáticas, uma árvore frutífera não venha a dar frutos. Esses casos, Aristóteles classifica como um, acidente. Algo que não ocorre sempre, somente às vezes, por uma casualidade qualquer , a falta de chuva ou o excesso de calor.
Assim, segundo Aristóteles , devemos distinguir também em todos os seres existentes:
A substancia – aquilo que é estrutural e essencial do ser.
O acidente – aquilo que é atributo circunstancial e não essencial do ser.
A substancia corresponde àquilo que mais intimamente o ser é em si mesmo. Os acidentes pertencem ao ser, mas não são necessários para definir a natureza de cada ser.

O que determina a realidade de um ser: a causa

A investigação do ato e da potencia do ser depende, no entanto, de alguns esclarecimentos sobre a causalidade. Isto porque essa passagem da potencia para o ato não se dá ao acaso ela é causada.
Aristóteles emprega o termo causa em sentido bastante amplo, isto é, no sentido de –tudo aquilo que determina a realidade de um ser.distingue, assim quatro tipos de causas fundamentais
Causa material – refere-se à matéria de que é feita uma coisa. Ex; o mármore utilizado na confecção de uma estatua;
Causa formal – refere-se à forma à natureza especifica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”, ex:uma estátua de forma de homem e não de cavalo.
Causa eficiente – refere-se ao agente que produziu diretamente a coisa.ex:o escultor que fez a estátua.
Causa final – refere-se ao objetivo,à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa. Ex: o escultor tinha como finalidade exaltar a figura do soldado ateniense.
A causa formal está diretamente subordinada à causa final, pois a finalidade de uma coisa determina o que os seres efetivamente são. A potencia, em si mesma. Não é capaz de formalizar o ser em ato. Para que se dê essa passagem, é preciso a intervenção de um agente transformador,(causa eficiente), guiado por uma finalidade (causa final).
É pela causa final, em última instancia, que as coisas mudam, determinando a passagem da potência para o ato.

A felicidade do homem

Para ser feliz, o homem deve viver de acordo com a sua essência, isto é, de acordo com a sua razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando os seus atos para uma conduta ética, a razão o conduzirá à prática da virtude. Para Aristóteles, a virtude representa a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta de um atributo qualquer. Ex; a virtude da prudência é o meio termo entre a precipitação e a negligencia; a virtude da coragem é o meio termo entre a covardia e a valentia insana; a perseverança é o meio termo entre a fraqueza de vontade e a vontade obsessiva.

Platão de Atenas : Das aparências ao mundo das idéias perfeitas


Os males não cessarão para os homens
Antes que a raça dos puros e autênticos
Filósofos cheque ao poder. Platão

Nascido em Atenas, Platão (427-347 aC.), pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “ de ombros largos”.
Platão foi discípulo de Sócrates, a que considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens” empreendeu inúmeras viagens, num período que ampliou sues horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas.
Por volta de 387 aC. Retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia nos jardins construídos por seu amigo.Academus. uma espécie de universidade pioneira dedicada à pesquisa cientifica e filosófica, além de se tornar um centro de formação política.
A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos –diálogos socráticos- escritos Poe ele mesmo, Platão.
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão, é sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da – passagem progressiva- do mundo das –sombras e aparências-para o mundo das –idéias e essências- .

O método Dialético de Platão

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela –opinião- que temos da realidade. A opinião representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente.
O metido proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a –dialética-.
Consiste a dialética, na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purifica-la dos erros e equívocos.
A opinião, nasce da percepção da aparência e da diversidade das coisas.
O conhecimento, por sua vez, é elaborado quando se alcança a idéia, que rompe com as aparências e a diversidade ilusória.
Nesse mundo das idéias só podemos entrar, segundo Platão, através do conhecimento racional, cientifico ou filosófico.
Mundo sensível e mundo das idéias

No mundo das idéias, é que moram os seres totais e perfeitos; a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria, etc.
Fora do mundo das idéias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte de ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.
A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de concilias as duas grandes tendências anteriores; a da filosofia grega; a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito.
Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, da essência e da realidade pura.

A República, o Rei filósofo
A Filosofia no poder – os Reis Filósofos

Na juventude, Platão alimentou os ideal de participação política em Atenas. Depois se desiludiu com a democracia ateniense. Abraçando a filosofia, adotou um novo ideal: foi então levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida publica e privada.
Para Platão, somente os filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria. Pó isso, no seu livro –A república- ,imaginou uma sociedade ideal, governada por –Reis Filósofos- . Pessoas capazes de atingir o mis alto conhecimento do mundo das idéias, que consiste na idéia do –bem- .

Sócrates de Atenas: o homem que sabia perguntar


Ele supõe saber alguma coisa e não sabe,
Enquanto eu, sei não sei, tampouco suponho saber,
Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente
Por não supor que saiba o que não sei. Sócrates.

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399aC.), é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré Socráticos. O próprio Sócrates, porém, não deixou nada escrito,e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, dando demonstração de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento, o saber ao fazer a consciência intelectual à consciência prática ou moral.
Sócrates opunha-se ao relativismo em relação à questão da moralidade ao uso da retórica para atingir interesses particulares.
Sócrates travou uma polêmica profunda, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas. ( O que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?).
A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entendo-se “alma” aqui, como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual moral, e que, portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza.
Por isso, auto conhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates e seus discípulos.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus inter locutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

A ironia

No grego ironia, quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus inter locutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é bom? O que é justiça? E a coragem? E a piedade?
Novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos o orgulho, a arrogância, e a presunção do seu saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “sei que nada sei”, dizia Sócrates.
A ironia socrática tinha um caráter purificador porque levava os discípulos confessarem suas próprias contradições e ignorâncias.

A Maiêutica

Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias.
Na segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudas seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Essa fase do diálogo socrático, era chamada de maiêutica, termo grego que significa: arte de trazer á luz.

Um corruptor da juventude

Sócrates não dava importância à posição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas de cada pessoa.
Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava o ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe ou posição social.
Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome). Diante de seus juízes, Sócrates assumiu uma postura viril,altaneira, imperturbável, de que nada teme.
Foi assim, que Sócrates procurou caracterizar sua vida; construindo um personalidade corajosa e guindo sua conduta pelo seu critério de justiça. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais.

Górgias de Leontini: O grande orador


"O bom orador é capaz de convencer qualquer
Pessoa sobre qualquer coisa". Górgias


Górgias de Leontini ( 487-380 aC.), considerado um dos grandes oradores da Grécia. Aprofundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de defender o ceticismo absoluto. Afirmava que:
A)- Nada existia;
B)-se existisse, não poderia ser conhecido;C)-Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a mingúem.

Protágoras de Abdera: O homem como medida


"O homem é a medida de todas as coisas;
Daquelas que são, enquanto são; e daquelas que
Não, enquanto não são". Protágoras.


Nascido em Adbera, cidade litorânea entre a Macedônia e a Trácia, Protágoras (480-410 aC.), é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como principio básico de sua doutrina a idéia de que o homem é a medida de tudo o que existe. Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. Todo verdade seria relativa a determinada pessoa, grupo social ou cultura.

SOFISTAS: os primeiros mestres na arte da argumentação

O período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação tinha, um cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo manifestada na procura de um principio primordial (arché) para todas as coisas existentes. Seguiu-se a esse período um nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade.
Essa nova fase foi marcada, no início pelos sofistas.
Sofista –significa “sábio” entretanto, com o decorrer do tempo , ganhou o sentido de “impostor”, devido sobretudo, às críticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Davam aulas de eloqüência e de sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios.
As lições dos sofistas tinham como objetivo, o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam, todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Nem heróis nem vilões
Foi devido a Platão que se considerou a sofística, uma atitude viciosa do espírito, uma arte de manipular raciocínios, de produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade.
O relativismo, fundamenta-se numa concepção flexível sobre os homens, a sociedade e a compreensão do real.
Para os sofistas, as opiniões humanas são infindáveis, diversas e não podem ser reduzidas a uma única verdade. Não existem valores ou verdades absolutas. É importante lembras que não existe uma doutrina sofística única. O que há são alguns pontos comuns entre as concepções de certos sofistas, como Protágoras, Górgias e outros.

Demócrito de Abdera: O átomo como explicação da diversidade


"O homem, um microcosmo". Demócrito

Nascido em Abdera, Demócrito (460-370 aC.), foi discípulo de Leucipo, e um pensador brilhante.
Responsável pelo desenvolvimento do atomismo. Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas forma chamadas de átomos, termo grego que significa, “não divisível “. A negação;tomo= divisível.
Além dos átomos, existiria no mundo real o vácuo, que representaria a ausência de ser (o não-ser). Devido à existência do vácuo, o movimento do ser torna-se possível. O movimento dos átomos permite infinita diversidade de composições. Demócrito distinguia três fatores básicos para explicar as diferentes composições dos átomos:
Figura – a forma geométrica de cada átomo.
Ordem – a seqüência espacial dos átomos de mesma figura.
Posição – a localização espacial dos átomos.
Para Demócrito, é o acaso ou a necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível é determinado entre causas. As infinitas possibilidades de aglomeração dos átomos explicam a infinita variedade de coisas existentes.
A principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à historia do pensamento é a concepção mecanicista. Segundo a qual, tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade. Isto é, nada nasce do nada, nada retorna ao nada. Tudo tem uma causa.

Empédocles de Agrigento: A unidade de tudo aquilo que se ama

Nascido em Agrigento (ou Acragas), sul da Sicília, (490-430 AC.), Esforçou-se por concilias as concepções de Parmênides e Haráclito.
Defendia a existência de quatro elementos primordiais que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água, o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
Amor (philia em Grego), responsável pela força de atração
Ódio (neikos, em Grego), responsável pela força de repulsão.Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.

Zenão de Eléia

"O que se move sempre está no mesmo agora". (Zenão).

Discípulo de Parmênides , Zenão de Eléia (488-430 aC.), elaborou argumento para defender a doutrina de seu mestre, pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.
O paradoxo de Zenão, que se refere à corrida de Aquiles com uma tartaruga.
Dizia Zenão:a)- Se, na corrida, a tartaruga saísse à frente de Aquiles, para alcança-la ele precisaria percorrer uma distancia superior à metade da distancia inicial que os separava no começo da competição.
b)- Entretanto, como a tartaruga continuaria se locomovendo, essa distancia, por menor que fosse, teria se ampliado. Aquiles deveria percorrer, então, mais da metade dessa nova distancia.
c)-A tartaruga, contudo, continuaria se movendo, e a tarefa de movendo, e a tarefa de Aquiles se repetiria ao infinito, pois o espaço pode ser dividido em infinitos pontos.
É evidente que os argumentos de Zenão não correspondem à realidade. Entretanto, esses argumentos demonstram as dificuldades por que passou o pensamento racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito.

Parmênides de Eléia

"O ente é; pois é ser, e nada não é" (Parmênides)

Nascido em Eléia, na Magna Grécia, litoral oeste da península Itálica, Parmênides ( 510-470 aC. Aproximadamente), tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Platão o chamava de Grande Parmênides.
Parmênides defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito.
Segundo Parmênides, o caminho das essência nos leva a concluir que na realidade:
a) – existe o ser, e não é concebível sua não existência;
b) – o ser é; o não ser não é
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filosofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não contradição.
Ap refletir sobre o ser, pela via de essência, o filosofo eleático concluiu que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa seria a via da verdade pura.
Assim na concepção de Parmênides, Heráclito teria percorrido o caminho das aparências ilusórias.
Mas, o filosofo sabia que é no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem seu cotidiano. Então, “ o mundo da ilusão não é uma ilusão de mundo”, mas uma manifestação da realidade que cabe à razão interpretar, explicar e compreender, até que alcance a essência dessa realidade. Não podemos confiar nas aparências, nas incoerências da visão enganadoras. O esforço de toda sabedoria é para Parmênides, sistematizar isso, tornar pensável o caos, introduzir uma ordem nele.

Os homens vivem, seu cotidiano no mundo da
Ilusão, das aparências e das sensações.

Heráclito de Éfeso: o movimento perpétuo do mundo


Tudo flui, nada persiste,
Nem permanece o mesmo.

O ser não é mais que o
Vir a ser . (Heráclito)

Nascido em Éfeso, cidade da região Jônica. Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré socráticos. A data de seu nascimento e a de sua morte não conhecidas. Há referencias históricas de que, por volta do ano 500 aC. Estava em plena “flor da idade”.
Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico. Em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista ( de movimento ). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc.Assim, afirmava que “ a luta ( guerra) é a mãe, rainha e principio de todas as coisas “. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
Atribuem-se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e a movimentação das coisas, o constante vir a ser , a eterna mudança, também chamada devir.
Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante.não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.
Assim Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres. Heráclito de Éfeso , acreditava que a luta dos contrários formava a unidade do mundo.

Pitágoras de Samos: o culto da matemática

Todas as coisas são números (Pitágoras)

Pitágoras (570-490 aC.), aproximadamente. Nasceu na ilha de Samos, na costa Jônica . Não distante de Mileto. Por volta de 530 aC. Sofreu perseguição política por causa de suas idéias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Instalou-se, então, em Crotona, sul da Itália , região conhecida como Magna Grécia.
Em Crotona, fundou uma poderosa sociedade de caráter filosófico e religioso e de acentuada ligação com as questões políticas. Depois de exercer, por longos anso, considerável influencia política na região, a sociedade pitagórica foi dispensada por opositores, e o próprio Pitágoras foi expulso de Crotona.
Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Pela primeira vez se introduzia um aspecto mais formal na explicação da realidade isto é, a ordem e a Constancia”, assim a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e impar, unidade e multiplicidade, reta e curva , circulo e quadrado. Pitágoras dizia que no “ no fundo de todas as coisas “ a diferença entre os seres consiste, essencialmente, em uma questão de números. As contribuições da escola pitagórica podem ser encontradas nos campos da matemática (lembre-se do celebre “teorema de Pitágoras”.)

Anaxímenes de Mileto


Anaxímenes (588-524 a.C.) concordava com Anaximandro quanto ao a-peiron, e com as características desse princípio apontadas por Anaximandro. Mas postulou que esse a-peiron fosse o Ar. Foi discípulo e deu prosseguimento à escola Jônica e escreveu sua obra: “Sobre a Natureza” em prosa. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.
Enquanto Tales sustentava a idéia de que a água é o bloco fundamental de toda a matéria, Anaxímenes dizia que tudo provém do Ar e retorna ao Ar. Admitia que a origem de todas as coisas é indeterminada. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o Ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, ao mesmo tempo, observável: “o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que anima, o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração”.

Anaximandro de Mileto


“Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos”. (Anaximandro).
Atribui-se seu nascimento entre os anos de 609/610 a.C. e sua morte em 546 a.C. Discípulo de Tales, foi geógrafo, matemático, astrônomo e político. Os relatos doxográficos dão conta de que escreveu um livro intitulado Sobre a Natureza, que se perdeu. É atribuída a Anaximandro a confecção de um mapa-mundi, a introdução na Grécia do gnômon (relógio solar), e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).
Anaximandro acreditava que o princípio de tudo é uma coisa chamada a-peiron, que é algo infinito, tanto no sentido quantitativo (externa e espacialmente), quanto no sentido qualitativo (internamente). Esse a-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os "comos e porquês" das coisas todas que saem do princípio. Ele diz que o mundo é constituído de contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o "juiz" que permite que ora exista um, ora outro. Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que "fere" a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles quer tomar o lugar do outro para poder existir.
Procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas. Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural – a água o fogo, o ar etc. – ele acredita não ser possível eleger uma única substancia material como o principio primordial de todos os seres, a arché.
Para Anaximandro, esse principio é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso, denominou-o a-peiron, (termo grego que significa, “o indeterminado”, “o infinito”). O a-peiron seria a “massa geradora” dos seres contendo em si todos os elementos contrários."Anaximandro,[...], representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma idéia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática." (Julian Marías, 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17).

Os pensadores de Mileto: a busca de um princípio para todas as coisas


Atribui-se a Tales a primeira medida de tempo exata utilizando o gnômon (relógio solar) e a construção de parapegmas (calendários astronômicos com informações meteorológicas). Foi o primeiro astrônomo a explicar o eclipse do Sol ao verificar que a Lua é iluminada por esse astro. Segundo Heródoto, ele teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Segundo Aristóteles, tal feito marca o momento em que começa a filosofia. Os astrônomos modernos calculam que esse eclipse aconteceu em 28 de maio do ano sugerido por Heródoto.
Tales (623-546 aC) costuma ser considerado o primeiro pensador grego. O “pai da filosofia” buscou a construção de um pensamento racional em diversos campos do conhecimento que hoje não são consideradas especialidades filosóficas. Foi astrônomo e geômetra. Demonstrou, por exemplo, que todos os ângulos inscritos no meio círculo são retos e que, partindo do princípio de que existe uma razão entre a altura de um objeto e o comprimento da sombra que esse objeto projeta no chão, e que essa razão é a mesma para diferentes objetos no mesmo instante, é possível calcular a altura de uma pirâmide. Tales usou apenas um bastão e as medidas das sombras da pirâmide e do bastão, para calcular a altura da pirâmide de Queóps.
Mas sua obra fundamental foi à tentativa de descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas, algo que fosse o principio unificador de todos os seres. Inspirando-se em concepções egípcias, acrescidas de suas próprias observações, Tales concluiu que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas.
Por fim, note o que Friedrich Nietzsche vai dizer em A Filosofia na Idade Trágica dos gregos:"A filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida (estado latente, prestes a se transformar), está contido o pensamento: Tudo é Um. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego".

Os primeiros filósofos do ocidente

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como: período pré-socrático; período que abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até o aparecimento de Sócrates (468-399 a.C.).
A filosofia ocidental teve como “berço” a cidade de Mileto, situada na Jônia, atual Turquia. Uma região de passagem do “mundo” ocidental para o “mundo” oriental. Uma região caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico e intenso comércio. A cidade de Mileto abrigou os três primeiros grandes pensadores da história ocidental, a quem atribuímos a denominação de filósofos. Tales, Anaximandro e Anaxímenes.

Mitologia grega

Os gregos cultuavam uma série de Deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena etc.) além de Heróis ou semideuses (Teseu, Hércules, Perseu etc.). relatando a vida dos deuses e dos heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram uma rica mitologia, conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, fornecem explicações para a realidade universal.
O momento histórico da Grécia Antiga em que se afirma a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida está vinculado à organização da polis, cidade Estado grega. A Polis era uma nova forma de organização social e política em que os cidadãos dirigem os destinos da cidade. A Polis foi uma criação dos cidadãos e não dos Deuses. E podia ser explicada e organizada pela razão.

O declínio do mundo dos mitos

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce Grécia por volta do século VII a.C. por meio de longo processo histórico, surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Essa passagem do mito à razão significa precisamente que já havia, de um lado, luma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda está incluído o poder do lendário. Em outras palavras, a filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos (saber racional), em contraste com o mito (saber alegórico). A força da mensagem dos mitos reside, portanto, na capacidade que eles têm de sensibilizar estruturas profundas, inconscientes do psiquismo humano.