domingo, 2 de novembro de 2008

Nietzsche - do julgamento da civilização à questão da existência humana


As filosofias da existência propriamente ditas surgiram somente no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos, entre eles : Schopenhauer, Kierkegaard, Husserl e Nietzsche.

Friedrich Nietzsche nasceu em Rocken, em 1844, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, possuía um gênio brilhante, tendo estudado grego, latim, teologia e filosofia. Em 1869, tornou-se professor titular de filosofia na Basiléia. E a partir da leitura de ‘O mundo como vontade e representação’, de Schopenhauer, sentiu-se profundamente atraído pelas reflexões filosóficas. Nietzsche critica a tradição da filosofia ocidental a partir de Sócrates, a qual acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática. Nessa análise, estabelece a distinção entre dois princípios:
O apolíneo e o dionisíaco - a partir, respectivamente de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade, o apolíneo e o dionisíaco, foram separados na Grécia socrática, que, ao optar pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia contida na dimensão dionisíaca.
Posteriormente, Nietzsche desenvolve uma crítica dos valores morais, ao propor uma nova abordagem dese mesmo tema: em "A genealogia da moral", ele estuda a origem e a história dos valores morais. A conclusão de Nietzsche foi a de que "não existem as noções absolutas de bem e de mal". Para ele as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos próprios homens, ou seja, são produtos da história humana. Os homens são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo das religiões.
Nietzsche julga um erro a submissão irrefletida aos valores dominantes da civilização cristã e da burguesa.
Pode ser considerado o primeiro niilista. Ser niilista significa não crer em nenhuma verdade moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos, o niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação da ‘morte de Deus’ isto é, na rejeição à crença de um ser absoluto, transcendental, capaz de traçar ‘o caminho, a verdade e a vida’ para o ser humano.

Arthur Schopenhauer



O filosofo alemão Arthur Schopenhauer.[1788-1860] foi o que atacou com maior veemência o pensamento de Hegel. Na sua opinião, Hegel seria um verdadeiro charlatão, que construiu sua filosofia os interesses do Estado prussiano.
Critico de Hegel, o filosofo Schopenhauer, desenvolveu uma visão pessimista da vida, encarada como uma historia de sofrimento. Por isso, aconselhava ‘´é mais feliz aquele que consegue viver sem grandes sofrimentos do que o outro que vive cercado de alegrias e prazeres[...] O tolo vive perseguindo a alegria da vida e acaba ludibriado, enquanto o sábio procura evitar o mal. ‘
Na obra “O mundo como vontade e representação”, Schopenhauer sustenta que, como o conhecimento é uma relação na qual o objeto é percebido pelo sujeito, o homem não conhece as coisas como elas são, mas como elas podem ser percebidas e interpretadas. Nesse aspecto, faz um retorno a Kant e se opõe à possibilidade do absoluto que Hegel preconizava. Para Schopenhauer, tudo o que o mundo inclui ou pode incluir é inevitavelmente dependente do sujeito, não existindo senão para o sujeito. O mundo é representação.
Com isso, ele quer dizer que não existe uma realidade exterior absoluta e que, para existir o conhecimento do mundo, e preciso existir o sujeito.
Dessa forma, Schopenhauer se afasta da reflexão de Kant e inicia sua própria filosofia. A representação do mundo é entendida por ele como “ilusão!, pois o objeto conhecido é condicionado pelo sujeito. Admite ser possível alcançar a essência das coisas, através de insight intuitivo, de uma espécie de iluminação. Nesse processo, a arte teria grande relevância, pois a atividade estética permitiria ao homem a compreensão da verdade. Pela arte, o sujeito se desprenderia de sua individualidade pra fundir-se no objeto,numa entrega pura e plena. Nesse ponto Schopenhauer seria um romântico”.
Sua filosofia, por outro angulo, se caracteriza pr uma visão pessimista do homem e da vida. Para ele, o ser humano seria essencialmente vontade, que o levaria a desejar sempre mais, produzindo uma insatisfação constante. Essa vontade, que se nas ações humanas. Se a essência do homem e do mundo é essa vontade insaciável, Schopenhauer identifica ai a origem das lutas entre os homens da dor e do sofrimento.
A historia é, para ele, a historia de lutas, onde “a infelicidade é a norma”, a regra geral. Portanto, a recusa da concepção racionalista de historia, elaborada por Hegel, segundo a qual a historia possui um sentido e progride em direção a uma maior liberdade. Para Schopenhauer, apenas pela arte e a ascese, ou seja, o abandono de si, pode o homem se libertar d dor. Inspirará as chamadas filosofias da existência.

Hegel: um projeto de conhecimento universal


George Wilhelm Friedrich Hegel [1770-1831], nascido em Stuttgart, foi o principal expoente do idealismo alemão. Ponto culminante do racionalismo. Busca oferecer respostas para o maior número de questões ao tentar reconciliar a filosofia com a realidade. O sistema “hegeliano” constitui a última grande expressão de um idealismo cultural, a última grande tentativa para fazer do pensamento, o refugio da ‘razão e da liberdade’.

Alguns pontos básicos do pensamento de Hegel:
1o) Entendimento da realidade como Espírito. Entender a realidade como espírito, de acordo com a filosofia de Hegel, é entende-la não apenas como substância - um enrijecimento do espírito, como pensava Schelling -, mas como sujeito. Isso significa pensar a realidade com processo, como movimento, e não somente com coisa (substância).
2o) A realidade, enquanto Espírito, possui uma vida própria, um movimento dialético. Ou, os diversos movimentos, sucessivos e contraditórios, pelos quais, determinada realidade se apresenta.
Hegel quer captar em sua filosofia o movimento dialético da realidade. Assim como um botão precisa desaparecer para que a flor surja, e a flor desaparece para que surja o fruto, da mesma forma, todas as coisas passam por um processo dinâmico de transformação que leva a uma síntese superior.
Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas dinâmica, e em seu movimento apresenta momentos que se contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente auto-enriquecimento.
Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou dialética.
Hegel compreende esse movimento do real, ou do Espírito que se realiza, como um movimento que se processa em três momentos:
- O primeiro, do ser em si;
- O segundo, do ser outro ou fora de si;
- O terceiro, do ser para si.
Esses três momentos, são comumente chamados de tese, antítese e síntese.
Hegel, os concebe como um movimento em espiral, um movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter mais avançado. O fio condutor dessa reflexão totalizante é a relação entre finito e infinito. Hegel acredita que o trabalho da filosofia é um trabalho de superação do entendimento finito e, limitado, das coisas finitas e limitadas, para alcançar o saber absoluto, que é o saber da coisa em si.
Como sistema filosófico a obra de Hegel procura demonstrar esse caminho do conhecimento finito ao conhecimento absoluto em vários campos do saber.
Em relação ao Espírito, Hegel reconheceu três momentos:
- O espírito subjetivo (que se refere ao indivíduo e à consciência individual);
- O espírito objetivo (que se refere às instituições e costumes historicamente produzidos pelos homens);
- O espírito absoluto (que se manifesta na arte, na religião e na filosofia, como espírito que se compreende a si mesmo). Hegel diz que ‘a história é o desdobramento do Espírito no tempo’. Tudo que é real, é racional, tudo que é racional é real. Isso equivale a dizer que todas as coisas existentes, mesmo as piores, fazem parte de um plano racional e que, portanto, tem um sentimento dentro do processo histórico. Tal afirmação hegeliana recebeu inúmeras crítica, já que pode levar a um certo conformismo ou a uma passividade diante das injustiças sociais. Marx foi um de seus principais críticos.

Immanuel Kant: o iluminismo alemão


O maior representante do Iluminismo alemão, Kant realizou em suas obras o exame das possibilidades de conhecimento da razão humana, estabelecendo os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o mundo.
Nascido em Konigsberg, na Alemanha [1724-1804] teve vida longa e tranqüila. Kant é o maior filosofo do Iluminismo alemã. Em seu texto – O que é a ilustração – o filosofo sintetiza o otimismo iluminista em relação à possibilidade de o homem se guiar por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.
Ele apresenta o processo de ilustração como sendo, a tomada de consciência por ele da autonomia da razão na fundamentação do agir humano.
O ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da filosofia Kantiana. Kant afirma que a filosofia deve responder a quatro questões fundamentais: O que posso saber? Como devo agir? O que posso esperar? O que é o ser humano?
Tentando responder essas questões, ele desenvolveu um exame crítico da razão, a fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento humano. Esse exame está contido em sua obra mais celebre: “Crítica da razão pura”.
A capacidade de conhecer
Na Crítica da razão pura, ele distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
O conhecimento empírico – a posteriori – aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo: Este livro tem a capa verde;
O conhecimento puro – a priori – aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos. Que é anterior a experiência. Nasce puramente de uma operação racional. Ex. duas linha paralelas jamais se encontram no espaço. É uma afirmação universal é uma afirmação que para ser válida, não depende de nenhuma condição especifica. Trata-se de uma afirmação necessária. O conhecimento puro, portanto conduz a juízos universais e necessários, Os juízos, por sua vez, são classificados por Kant em dois tipos; Os analíticos e os sintéticos. O juízo analítico, é aquele em que o predicado já está contido no sujeito. Ex: o quadrado tem quatro lados. Analisando o sujeito quadrado, concluímos, necessariamente, o predicado: tem quatro lados. O juízo sintético – é aquele em que o predicado não está contido no sujeito. Ex: Os corpos se movimentam. Por mais que analisemos o conceito “corpo”[sujeito] não extrairemos a informação representada pelo predicado “se movimentam”.
Juízo analítico – Serve para explicar aquilo que já se conhece do sujeito. O juízo analítico é universal e necessário. Mas a rigor, é pouco útil , no sentido de que não conduz a conhecimentos novos.
Juízo sintético a posteriori - - está diretamente ligado a nossa experiência sensorial. Tem uma validade sempre condicionada ao tempo e ao espaço em que se deu a experiência.
Juiz sintético a priori – É o mais importante por dois motivos: A) não estando limitado pela experiência, é universal e necessário e, B) seu predicado acrescenta novas informações ao sujeito, possibilitando uma ampliação do conhecimento.

O conhecimento: É o resultado de uma síntese entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Segundo Kant, é impossível conhecermos as coisas em si mesmas [o ser em si]. Só conhecemos as coisas tal como as percebemos [o ser para nós].
Essa posição epistemológica de Kant significa uma síntese entre idealismo e realismo.pois, para ele, o conhecimento não é dado nem pelo sujeito nem pelo objeto, mas pela “relação” que se estabelece entre esses dois pólos. O que podemos conhecer são apenas os “fenômenos” , ou seja, os objetos tais como eles aparecem para nós, mas não como eles são em si mesmos.
Não podemos conhecer as coisas em si?
Porque percebemos a realidade a partir das formas a priori da sensibilidade: o ‘tempo’e o ‘espaço’ isso quer dizer que a nossa capacidade de representar as coisas se dá sempre no tempo e no espaço. Essas noções são ‘intuições puras’ existem como representantes básicas na nossa sensibilidade.
Através de seu racionalismo critico, Kant tentou formular a síntese entre sujeito e objeto, entre racionalismo dogmático e empirismo, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos de sua construção mental, ou seja: das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas.

A ética kantiana
Na “critica da razão pratica”, Kant faz o exame do comportamento moral.
Para Kant, não é possível dizer nada sobre a ‘alma humana’ e sobre ‘Deus’ pois eles ultrapassam a nossa capacidade de entendimento. Isso colocou um problema em relação à tradição moral, até então alicerçada na existência de Deus. Sendo impossível provar a existência ou não de Deus, Kant fundamentou a moral na ‘autonomia da razão humana’, isto é, na idéia de que as normas morais devem surgir da razão humana.
Dessa forma ele recusou todas as éticas anteriores, fundamentadas em normas e valores de origens diversas.
Ele entende que a razão é uma característica universal dos seres humanos, sendo a característica propriamente humana , que nos distingue dos outros seres da natureza.
Assim para impedir que os indivíduos se deixem levar pelos seus desejos, paixões ou motivos particulares, é a razão que deve indicar quais são os deveres e normas a serem seguidos de uma forma universal.
Kant afirmou que conduta humana deve se pautar pela seguinte orientação básica, que ele denominou ‘imperativo categórico’. Age de tal forma que o princípio moral de tua ação possa tornar-se uma lei universal. Para Kant, o objetivo maior da educação é o desenvolvimento moral ou seja, possibilitar ao indivíduo que elabore sua autonomia moral. Com isso Kant quer dizer que ao agirmos, devemos pensar se aquilo que estamos fazendo poderia ser feito também por todas as outras pessoas, sem prejuízo para a humanidade.
Para Kant, também, o fundamental na avaliação de uma conduta moral é a intenção de que praticou, independentemente dos efeitos que tal conduta possa vir a provocar. E a melhor intenção é aquela que se volta para o cumprimento do dever. Agir de acordo com o dever é , agir de acordo com os princípios racionais. Não basta, para uma ação ser considerada moralmente boa. É preciso mais do que isso:é necessário que o individuo ‘reconheça’ naquele dever o principio racional que o sustenta.
Essa intenção bem determinada em relação à aceitação e ao cumprimento do dever é o que ele designa ‘boa vontade’, a boa vontade é o que caracteriza a ação moralmente correta. Kant dirá: A liberdade é a condição da lei moral. Só pode ser considerada uma ação moral aquela que for realizada de forma livre e autônoma. Sem liberdade, não há verdadeiramente moral. Kant, propondo uma concepção de liberdade que coincide com o atendimento do dever, pois para ele a liberdade seria uma possibilidade advinda da razão, a qual nos liberta dos caprichos e inclinações próprios dos sentidos. Dessa forma, a liberdade como uma exigência de moralidade, do mesmo modo as idéias da existência de Deus e da imortalidade da alma, são necessidades morais do homem.A ética kantiana e´ uma ética ‘formalista’. Ela não fornece os conteúdos morais, apenas o imperativo categórico, que deve servir como ‘orientação na escolha desses conteúdos’ baseada em uma concepção de uma natureza humana racional e livre. Kant é um dos filósofos que mais influenciaram o pensamento contemporâneo.

David Hume


O costume é, pois, grande guia da vida humana. É o único principio que torna útil nossa experiência e nos faz esperar, no futuro, uma série de eventos semelhantes àqueles que aparecem no passado.
Nascido em Edimburgo, Escócia, David Hume [1711-1776] estudou filosofia , Direito e comércio. Ocupou importante posição na diplomacia inglesa. Estabeleceu contatos com grandes pensadores da época, entre eles, Adam Smith e Jean Jacques Rousseau.
Na obra – Investigação acerca do entendimento humano- Hume formulou a sua teoria do conhecimento. Dividiu, primeiramente, tudo aquilo que percebemos em impressões e idéias. As impressões referem-se aos dados fornecidos pelos sentidos, como, pr exemplo, as impressões visuais,auditivas, táteis. As idéias referem-se às representações mentais [memória, imaginação] derivadas das impressões . assim, toda idéia é uma cópia de alguma impressão
Para Hume, somente o raciocínio dedutivo, utilizado na matemática fundamenta-se numa lógica racional.
O grande valor da obra de Hume foi ter deixado um importante problema para os teóricos do conhecimento [epistemologistas] , afinal, é ou não possível partirmos de experiências particulares para chegarmos a conclusões gerais, representadas pelas leis cientificas?
Enquanto o senso comum acredita que por meio de observações repetidas realizadas no passado, podemos justificar nossas expectativas futuras, Hume sustenta que a repetição de um fato não nos permite concluir em termos lógicos , que ele continuará a repetir-se da mesma forma, indiferentemente. Assim, Hume revela um ceticismo teórico. Desconfiado das convicções arraigadas pelo hábito, o cientista deve apresentar suas teses como probabilidades lógicas e não certezas irrefutáveis.

A existência das coisas nada mais é, do que a percepção que temos dessa existência.


George Berkeley desenvolveu uma reflexão que, ao mesmo tempo, afirma e nega o empirismo. Afirma o empirismo quando reconhece que todo conhecimento provém dos sentidos, que percebemos os seres existentes. Mas nega o empirismo, quando diz que os seres existentes se reduzem à percepção que nós temos deles.
Nascido em Kilkenny, na Irlanda do Sul, George Berkeley, (1685-1753), fez seus estudos superiores no Trinity College de Dublin, onde mais tarde se tornaria professor, lecionando grego e teologia. Em 1710, aos 25 anos, publicou o “Tratado sobre os princípios do conhecimento humano”. Em 1734, tornou-se bispo da Igreja Anglicana.
Berkeley defende que todo o nosso conhecimento do mundo exterior resume-se a aquilo que captamos pelos sentidos. Assim a, existência das coisas nada mais é, do que a percepção que temos dessa existência.
Isso significa que toda a realidade material restringe-se à idéia que fazemos das coisas Berkeley nega, desse modo a existência da ateria, com o substancia independente da mente, “o que os olhos vêem e as mãos tocam existe; existe realmente, não o nego”. Só nego o que os filósofos chamam matéria ou substância corpórea, ou seja, apesar de seu empirismo, Berkeley, como homem religioso que era, defendeu a imaterialidade do mundo.Berkeley defendeu a existência de uma mente cósmica representada por Deus, para ele, Deus percebe de modo absoluto, a existência de todos os seres. E essa percepção de Deus é que garante e sustenta a existência das coisas, mas sempre como “seres percebidos”, pela mente divina. Pra Berkeley, o mundo nada mais é do que uma relação entre Deus e os espíritos humanos.

Ao nascer o homem é uma tábula rasa


Um dos maiores representantes do empirismo, Locke afirma que não há nada em nossa mente que não tenha passado antes pelos nossos sentidos.
Nascido em Wrington, Inglaterra, John Locke (1632-1704) estudou na universidade de Oxford, formou-se em medicina.
Em 1675, exilou-se na França, deslocando-se, mais tarde, para a Holanda, Regressou à Inglaterra somente em 1688, participando da chamada Revolução Gloriosa , que levou Guilherme de Orange ao trono da Inglaterra. Em sua obra “Ensaio acerca do entendimento humano”, defendeu que nossa mente, no instante de nascimento, é como uma tabula rasa, um papel em branco sem nenhuma idéia previamente escrita.
Todas as idéias que possuímos são adquiridas a longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Locke utiliza o termo idéia no sentido de todo conteúdo do processo do conhecimento.
Para ele, nossas primeiras idéias, as sensações, nos vêm à mente através dos sentidos (experiência sensorial), sendo moldadas pelas qualidades próprias dos objetos externos.pr sensação Locke entende, pr exemplo, as idéias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce etc.Depois, combinando e associando as sensações, por um processo de reflexão, a mente desenvolve outra série de idéias que, segundo Locke, não poderia ser obtida das coisas externas, tais como a percepção, pensamento, o duvidar, crer, raciocinar.

O homem é o lobo do homem


Hobbes , desenvolveu uma compreensão materialista mecanicista da realidade na qual as coisas poderiam ser explicadas por meio da relação de causa e efeito.
A filosofia de Hobbes (1588-1679), é marcada por uma profunda influencia de Bacon e Galileu, buscou investigar as causas e propriedades das coisas. Na definição de Hobbes, filosofia é a ciência dos corpos, que se dividem em corpos naturais [filosofia da natureza] e corpo artificial ou Estado filosofia política.
Toda a realidade poderia ser explicada a partir de dois elementos do corpo entendido como aquilo que não depende do nosso pensamento, e do movimento, que pode ser determinado matemática e geometricamente. Assim as qualidades seriam “fantasias do sensível, ou seja, efeitos dos corpos e de seus movimentos”.
No pensamento de Hobbes não há lugar para a liberdade, porque os movimentos se derivam necessariamente dos nexos causais que lhe dão origem.

Da mesma forma não há espaço o bem e o mal e, portanto, para os valores morais. O que chamamos de bem é tão somente aquilo para o qual tendemos, enquanto o mal é apenas aquilo do que fugimos , a conservação da vida é o valor máximo para cada indivíduo .
Mas, se o bem e o mal são relativos, isto é, são determinados pelos indivíduos como será possível a convivência entre os homens. Hobbes responde a essa questão nos livros Leviatã e De civis, nos quais sustenta a necessidade de um poder absoluto que mantenha os homens em sociedade e impeça que eles se destruam mutuamente.

EMPIRISMO

A experiência é fundamental.

As grandes transformações ocorridas a partir do Renascimento e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar, entre outras coisas, os critérios e métodos para a aquisição de um conhecimento verdadeiro.
Filósofos do dos séculos XVII e XVIII. Formularam diversas epistemologias ou teorias do conhecimento. As duas principais vertentes foram a racionalista e a empirista.
O racionalismo moderno teve, em René Descartes, seu primeiro e principal expoente. O ponto de partida da filosofia cartesiana é o sujeito pensante. E não mundo exterior. O sujeito pensante, segundo Descartes, possuiria idéias inatas, isto é, idéias que teriam nascido com individuo, que dispensariam um objeto para faze-las existir.
O empirismo, por sua vez, nega a existência de idéias inatas e enfatiza o objeto pensado. Defende que o processo de conhecimento depende da experiência sensível.para os empiristas, o conhecimento humano provém de duas fontes básicas; a nossa percepção do mundo externo e o exame interno da nossa atividade mental[reflexão].
O palco inicial d empirismo moderno foi a Inglaterra . Nesse país a burguesia, a partir do século XVII, conquistou poder econômico , político e ideológico. Impondo o fim do absolutismo monárquico [Revolução Gloriosa], essa ascensão da burguesia relaciona-se no plano epistemológico, ao empirismo[valorização da experiência concreta,da investigação natural] e no plano sociopolítico, ao nascimento do liberalismo[valorização da liberdade pessoal d cidadão e exigência de limites constitucionais ao poder monárquico.
Entre os principais representantes do chamado empirismo inglês destacam-se Francis Bacon Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley e David Hume .

Espinosa e o racionalismo absoluto


Baruch Espinosa (1632-1677) nasceu na Holanda e era filho de imigrantes judeus de origem hispano portuguesa . Desenvolveu um racionalismo radical, que se caracterizou pela crítica às superstições religiosa, política e filosófica.
De acordo com espinosa , a fonte de toda superstição é a imagem incapaz de compreender a verdadeira ordem do universo. Como é incapaz de conhecer verdadeiramente , a imaginação credita a realidade a um Deus transcendental. E voluntarioso, nas mãos de que os homens não passam de joguetes. A partir da superstição religiosa, desenvolvem-se as superstições políticas e filosóficas.
Para combater essas superstições, Espinosa escreveu a Ética texto no qual demonstra, ao modo de uma demonstração geométrica, a natureza racional de Deus, que se manifesta em todas as coisas [Deus imanente]
No interir desse entendimento racionalista, não há lugar para tragédia nem mistérios, tudo se torna compreensível à luz da razão. A filosofia seria o conhecimento racional de Deus e a liberdade humana se torna a consciência da necessidade. Ou seja, não há livre arbítrio , uma vez que Deus se identifica com a natureza e, portanto, tudo o que existe é necessário, na pode ser diferente pis faz parte da natureza divina . por isso, Espinosa dizia natureza é Deus.
Ética demonstrada segundo ordem geométrica, de B. de Espinosa, edição bilíngüe, latim/português.tradução e notas por Tomaz Tadeu. Autentica Editora, 424 pags.R$ 68
Maurício Rocha
Tomaz Tadeu, ex-professor da UFRGS, com vários estudos na área de educação inspirados em Foucault e Deleuze, apresenta sua tradução da ‘ética’ demonstrada segundo a ordem geométrica. É a terceira em português, 70 anos após a primeira brasileira, por Livio Xavier, seis décadas após a editora em Coimbra por Joaquim de Carvalho e colaboradores [republica na coleção ‘Os pensadores’ desde 1973].
Par os leitores brasileiros do filosofo, dentro e fora das universidades, e feitio é um evento e tanto. A edição traz o original em latim estabelecido por Carl Gebhardt em 1925, a partir da edição da ‘Opera Posthuma de Espinosa’ publicada em 1677- que é a referencia das principais traduções contemporâneas em inglês, francês e espanhol.
A presença do texto latino permite reavaliar as soluções do tradutor, que incorporou lições das últimas quatro décadas de estudos sobre o filosofo e corrigiu equívocos das versões disponíveis [ inclusive francesas], como entre afecção e afeto[affectio/affectus]; potencia e poder [potentia/potestas], vertendo mens por mente e não por alma, entre outros vocábulos decisivos.
Fluência na tradução ajuda a desfazer imagem de ascético. A fluência da versão ,na qual o tradutor diz ter buscado a sonoridade do ‘portugues-brasileiro contemporâneo , judá a desfazer a imagem do filosofo austero e ascético, cujo aparato conceitual seria inacessível aos leigos. Mas podemos supor que mesmo um camponês pode ler ‘Espinosa’ , com narrou Bernard Malamud em seu romance ‘ O faz tudo’.
Nascido em uma família de judeus ibéricos residentes na Amsterdã, em 1632, Espinosa teve o português e o espanhol como idiomas da casa e da rua, e nas escolas da comunidade estudou hebraico. É certo que sabia holandês, como é certo que ignorou o inglês, o alemão e o grego. Segundo um biógrafo, Espinosa tinha ‘um ar português’ Carl Gebhardt cogitou que o filosofo pensava com a mesma língua que Camões. A hipótese. Nada fantasista, foi retomada por Joaquim de Carvalho, e ainda motiva disputas entre os ibéricos em torno das origens do filosofo.
O aprendizado do latim foi tardio. Um pouco anterior à sua exclusão da comunidade judaica, em 1656 (o texto violento do anátema acompanha a presente edição, assim como o inventário de bens deixado pelo filosofo). Alguns de seus tradutores e estudiosos afirmaram que ele ‘ não era Cícero’ que o latim da ‘Ética’ parece escolar. Cujo vocabulário sofreria de ‘penúria’ de fato, sem ser um erudito, Espinosa tomou emprestado formas e conteúdos do latim. Língua cientifica do seu tempo, e de clássicos como Terêncio e Ovídio, além da cultura barroca espanhola que conhecia bem. Tudo é mobilizado aqui e ali na ‘Ética’ onde as fórmulas retóricas são vocalizadas com o léxico da metafísica – daí dizer-se que a ‘Ética ‘ é uma catedral feita com peças de demolição. No entanto existe. Além de tudo, a disposição de todos esses elementos sob a ordem geométrica da exposição – que desconcerta, desafia e confunde os leitores.

O filosofo francês Blaise Pascal, (1623-1662), foi um pensador que refletiu sobre a condição trágica do ser humano; ao mesmo tempo magnífico e miserável, capaz de alcançar grandes verdades e gerar grandes erros. Sobre a situação paradoxal do homem em meio a toda a realidade existente, perguntou: No fundo, o que é o homem na natureza ? e nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao nada, algo de intermediário entre o nada e tudo.Pascal, dirá que o homem não pode conhecer o principio e o fim das realidades que busca compreender, ficando limitado apenas às aparências, já que, em suas palavras as compreende, ninguém mais pode faze-lo. Pascal afirma que a razão humana é impotente pra provar a existência de Deus, ficando por conta da fé a crença em um Deus cuja existência jamais poderá ser provada. De acordo com seu pensamento, o supremo passo da razão está em reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Dessa forma ele dirá “O coração e não a razão, é que sente Deus. E isto é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão. O que Pascal busca recuperar é o Deus de amor e consolação”, é um Deus que faz cada qual sentir interiormente a sua própria miséria e a misericórdia infinita de Deus.

O racionalismo de Renè Descartes: idéias claras e distintas



René Descartes é considerado o pai da filosofia moderna. René Descartes[1596-1650] nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou no clégio jesuíta de La Flèche . ingressando na carreira militar, mudou-se par a Holanda, onde participou de combates contra os espanhóis. Posteriormente, em 1619, viajou por vários países europeus, estabelecendo contatos com vários sábios de seu tempo ,entre eles “Blaise Pascal”[1623-1662]. Temendo perseguições religiosas e tendo em mente a condenação de Galileu,tomou uma série de cautelas na exposição de suas idéias. Apesar disso, o que publicou é suficientemente vasto e valioso para situa-lo como um dos pais da filosofia moderna.
Descartes afirmava que, para conhecermos a verdade, é preciso, de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
Fazendo uma aplicação metódica da duvida, o filosofo foi considerando como incertas todas as percepções sensoriais, todas as noções adquiridas sobre os objetos materiais . E prosseguiu assim, cada vez mais colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que constitui a realidade e o próprio conteúdo dos pensamentos. Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de dúvidas era a seguinte: meus pensamentos existem e a existência desses pensamentos se confunde com a essência da minha própria existência como ser pensante. Disso decorre a célebre conclusão de Descartes.
Penso, logo existo
É preciso esclarecer que o termo pensamento utilizado por Descartes tem um sentido bastante amplo, abrange tudo o que afirmamos, negamos, sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos. Assim, o ser humano era para ele, uma substancia essencialmente pensante. O pensamento é algo mais certo do que a própria matéria corporal.
Baseando –se nesse principio, toda filosofia posterior que sofreu a influencia de Descartes assumiu uma tendência idealista, isto é, uma tendência a valorizar a atividade do sujeito pensante em relação ao objeto pensado. Em outras palavras, uma tendência para ressaltar a prevalência da consciência subjetiva sobre o ser objetivo.
Descartes, foi um racionalista convicto, recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos freqüentes erros do conhecimento humano. Foi um grande matemático, teve importante contribuição para a criação da geometria analítica, que tornou possível a determinação de um ponto em um plano mediante duas linhas perpendiculares fixadas graficamente [as coordenadas cartesianas]
Da sua obra-Discurso do método.podemos destacar quatro regras básicas, capazes de conduzir espírito na busca de verdade:
1- Regra da evidencia –só aceitar algo como verdadeiro desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.
2- Regra da análise – dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolve-las melhor.
3- Regra da síntese – ordenar o raciocínio indo dos problemas mais simples para os mais complexos.
4- Regra da enumeração – realizar verificações completas e gerais para ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido. Com o seu método da dúvida crítica [dúvida cartesiana], Descartes abalou profundamente o edifício do conhecimento estabelecido. Descartes celebrizou-se não propriamente pelas questões que resolveu, mas, sobretudo pelos problemas que formulou , que foram herdados pelos filósofos posteriores.

Francis Bacon: o método experimental contra os ídolos


Nascido em Londres, Francis Bacon [1561-1626] pertencia a uma família de nobres. Francis Bacon, realizou uma obra cientifica de inegável valor.É considerado um dos fundadores do método indutivo de investigação cientifica. Atribui-se a ele, também a criação do lema –saber é poder.
Segundo Bacon, a ciência deveria valorizar a pesquisa experimental, tendo em vista proporcionar resultados objetivos para o homem.
O método indutivo de investigação, baseado na observação rigorosa dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas:
Observação da natureza para a coleta de informações;
Organização racional dos dados recolhidos empiricamente;
Formulação de explicações gerais [hipóteses] destinadas à compreensão do fenômeno estudado;
Comprovação da hipótese formulada mediante experimentações repetidas em novas circunstancias.
A grande contribuição de Francis Bacon para a historia da ciência moderna foi apresentar conhecimento cientifico como resultado de um método de investigação capaz de conciliar a observação dos fenômenos , a elaboração racional das hipóteses e a experimentação controlada para comprovar as conclusões obtidas.