domingo, 2 de novembro de 2008

Espinosa e o racionalismo absoluto


Baruch Espinosa (1632-1677) nasceu na Holanda e era filho de imigrantes judeus de origem hispano portuguesa . Desenvolveu um racionalismo radical, que se caracterizou pela crítica às superstições religiosa, política e filosófica.
De acordo com espinosa , a fonte de toda superstição é a imagem incapaz de compreender a verdadeira ordem do universo. Como é incapaz de conhecer verdadeiramente , a imaginação credita a realidade a um Deus transcendental. E voluntarioso, nas mãos de que os homens não passam de joguetes. A partir da superstição religiosa, desenvolvem-se as superstições políticas e filosóficas.
Para combater essas superstições, Espinosa escreveu a Ética texto no qual demonstra, ao modo de uma demonstração geométrica, a natureza racional de Deus, que se manifesta em todas as coisas [Deus imanente]
No interir desse entendimento racionalista, não há lugar para tragédia nem mistérios, tudo se torna compreensível à luz da razão. A filosofia seria o conhecimento racional de Deus e a liberdade humana se torna a consciência da necessidade. Ou seja, não há livre arbítrio , uma vez que Deus se identifica com a natureza e, portanto, tudo o que existe é necessário, na pode ser diferente pis faz parte da natureza divina . por isso, Espinosa dizia natureza é Deus.
Ética demonstrada segundo ordem geométrica, de B. de Espinosa, edição bilíngüe, latim/português.tradução e notas por Tomaz Tadeu. Autentica Editora, 424 pags.R$ 68
Maurício Rocha
Tomaz Tadeu, ex-professor da UFRGS, com vários estudos na área de educação inspirados em Foucault e Deleuze, apresenta sua tradução da ‘ética’ demonstrada segundo a ordem geométrica. É a terceira em português, 70 anos após a primeira brasileira, por Livio Xavier, seis décadas após a editora em Coimbra por Joaquim de Carvalho e colaboradores [republica na coleção ‘Os pensadores’ desde 1973].
Par os leitores brasileiros do filosofo, dentro e fora das universidades, e feitio é um evento e tanto. A edição traz o original em latim estabelecido por Carl Gebhardt em 1925, a partir da edição da ‘Opera Posthuma de Espinosa’ publicada em 1677- que é a referencia das principais traduções contemporâneas em inglês, francês e espanhol.
A presença do texto latino permite reavaliar as soluções do tradutor, que incorporou lições das últimas quatro décadas de estudos sobre o filosofo e corrigiu equívocos das versões disponíveis [ inclusive francesas], como entre afecção e afeto[affectio/affectus]; potencia e poder [potentia/potestas], vertendo mens por mente e não por alma, entre outros vocábulos decisivos.
Fluência na tradução ajuda a desfazer imagem de ascético. A fluência da versão ,na qual o tradutor diz ter buscado a sonoridade do ‘portugues-brasileiro contemporâneo , judá a desfazer a imagem do filosofo austero e ascético, cujo aparato conceitual seria inacessível aos leigos. Mas podemos supor que mesmo um camponês pode ler ‘Espinosa’ , com narrou Bernard Malamud em seu romance ‘ O faz tudo’.
Nascido em uma família de judeus ibéricos residentes na Amsterdã, em 1632, Espinosa teve o português e o espanhol como idiomas da casa e da rua, e nas escolas da comunidade estudou hebraico. É certo que sabia holandês, como é certo que ignorou o inglês, o alemão e o grego. Segundo um biógrafo, Espinosa tinha ‘um ar português’ Carl Gebhardt cogitou que o filosofo pensava com a mesma língua que Camões. A hipótese. Nada fantasista, foi retomada por Joaquim de Carvalho, e ainda motiva disputas entre os ibéricos em torno das origens do filosofo.
O aprendizado do latim foi tardio. Um pouco anterior à sua exclusão da comunidade judaica, em 1656 (o texto violento do anátema acompanha a presente edição, assim como o inventário de bens deixado pelo filosofo). Alguns de seus tradutores e estudiosos afirmaram que ele ‘ não era Cícero’ que o latim da ‘Ética’ parece escolar. Cujo vocabulário sofreria de ‘penúria’ de fato, sem ser um erudito, Espinosa tomou emprestado formas e conteúdos do latim. Língua cientifica do seu tempo, e de clássicos como Terêncio e Ovídio, além da cultura barroca espanhola que conhecia bem. Tudo é mobilizado aqui e ali na ‘Ética’ onde as fórmulas retóricas são vocalizadas com o léxico da metafísica – daí dizer-se que a ‘Ética ‘ é uma catedral feita com peças de demolição. No entanto existe. Além de tudo, a disposição de todos esses elementos sob a ordem geométrica da exposição – que desconcerta, desafia e confunde os leitores.

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