sexta-feira, 13 de junho de 2008

Escolástica: os caminhos de inspiração aristotélica até Deus


No século VIII Carlos Magno organizou o ensino e fundou escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então voltou a ser divulgada, passando a ter uma influencia mais marcante nas reflexões da época. Era o período da – renascença carolíngia
Tendo a educação romana, como modelo, começaram a ser ensinadas meterias como gramática, retórica e dialética (o trivium) e geometria, aritmética, astronomia e música ( o quadrivium). Todas submetidas à teologia.
No ambiente cultural dessas escolas e das primeiras universidades do século XI , surgiu uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola).
A partir das traduções e comentários feitos pelos filósofos árabes que as obras de física, metafísica e ética passaram a ser conhecidas na Europa.
Filósofos árabes como Avicena e Averróis foram muito importantes na divulgação das obras de Aristóteles. Isso ocorreu porque, a partir do século VI, os árabes iniciaram uma série de guerras religiosas, buscando difundir o islamismo. Dessa forma conquistaram parte do Oriente e entraram em contato com a cultura grega, que influenciava essas religiões. Desde as conquistas de Alexandre Magno. Em 711, os árabes conquistaram parte da península Ibérica e a partir dessa região, passaram a exercer um influencia notável sobre vários setores da cultura européia, tanto na arquitetura como na literatura, nas ciências e na filosofia.
Renascença carolíngia –refere-se ao estímulo dado `atividade cultural (letras,artes, educação), que marcou o governo de Carlos Magno. A obra realizada nessa época muito contribuiu para a preservação e a transmissão da cultura da Antiguidade clássica.
No período escolástico, a busca de harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Pode ser dividida em três fases:
Primeira fase – (do século IX ao fim do século XII), caracterizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
Segunda fase – ( do século XIII ao principio do século XIV) –caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de Tomás de Aquino. A harmonização entre fé e razão pode ser parcialmente obtida.
Terceira fase –(do século XIV até o século XVI)- decadência da escolástica, caracterizada pela afirmação das diferenças fundamentais entre fé e razão.

Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a referencia às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no estudo da lógica.
Um dos principais filósofos que contribuiu para o desenvolvimento dos estudos lógicos foi Boécio que, embora tenha vivido de 480 a 524, é considerado o primeiro dos escolásticos, ele aperfeiçoou o quadrado lógico, sistema de relações entre afirmativas que fornece a base lógica para garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Foi o primeiro a introduzir a questão dos universais , problema filosófico longamente discutido por todo o período da escolástica.

A questão dos universais: o que há entre as palavras e s coisas

O método escolástico de investigação, privilegiava o estudo da linguagem para depois passar para o exame das coisas. Desse método surgiu a seguinte pergunta: Qual a relação entre as palavras e as coisas?
Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre , a palavra rosa continua existindo, nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma idéia geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o filosofo neoplatônico Porfírio (234-305, aproximadamente), em sua obra Isagoge.
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das idéias gerais.isto é, os chamados universais de Aristóteles, tal discussão ficou conhecida como a questão dos universais, isto é, da relação entre as coisas e seus conceitos, e envolvia problemas lingüísticos e gnoseológicos (relativos `a questão do conhecimento, também teológicos.
Surgiram duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo.
O realismo, sustentava a tese de que os universais existiam de fato, as idéias universais existiriam por si mesmas, Assim, por exemplo, a bondade, a beleza, seriam modelos ou moldes a partir dos quais se criariam as coisas boas e as coisas belas. Os termos universais seriam entidades metafísicas, essências separadas das coisas individuais.
Posição defendida por Santo Anselmo(1035-1109), que acreditava que as idéias universais existiriam na mente divina. O filosofo e bispo francês Guilherme de Campeaux(1070-1121), também era realista e acreditava que entre o universo das coisas e o universo dos havia uma analogia .
O Nominalismo, sustentava a tese de que os termos universais, tais como beleza, bondade etc. não existiriam em si mesmos, pois seriam apenas palavras se uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres singulares, e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.
Essa era a posição do filósofo francês Roscelin de Compiègne ( 1050-1120), segundo o qual só existia a individualidade. Roscelim também negava que Deus pudesse ser uno e trino ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma individualidade separada.
Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo moderado sustentado por Pedro Abelardo(1079-1142).
Filosofo de grande prestigio, Pedro Abelardo, desenvolveu a reflexão no campo da lógica e mostrou-se um humanista no campo da ética. Em relação à teologia, acreditava que ara necessário “ entender par crer” , cultivando a razão crítica, o que suscitou ásperas polemicas com os pensadores conservadores de seu tempo.
De acordo com Abelardo, só existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a geral os conceitos universais. Tais conceitos não seriam de acordo com Abelardo, nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do nominalismo), e sim discursos mentais, categorias lógico-linguisticas que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. A importância da questão dos universais está no avanço que essa discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento lógico-linguistico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em relação à teologia, por volta do século XII.

Um comentário:

Unknown disse...

Obrigada. Fiz várias pesquisas sobre nominalismo e realismo, mas não conseguia entender nada!
Mas através da sua explicação, simples e objetiva, consegui entender.