sexta-feira, 13 de junho de 2008

Santo Agostinho: A certeza da razão por meio da fé


Aureliano Agostinho (354-430), nasceu em Tagaste, província romana situada na África e faleceu em Hipona, hoje localizada na Argélia. Nesta cidade ocupou o cargo de bispo da Igreja católica . até completar 32 anos Agostinho não era cristão. Teve uma vida voltada aos prazeres do mundo. De uma ligação amorosa ilícita para a época, nasceu-lhe o filho Adeodato.
Em sua formação intelectual, Agostinho sentiu-se despertado para a filosofia pela leitura de Cícero. Deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal. Mantendo uma incessante luta entre si.
Mais tarde, viajou para Roma e Milão, entrando em contato com o ceticismo e, depois com o neoplatonismo, movimento filosófico do período greco-romano, inspirados em Platão, que se espalhou por diversas cidades do Império Romano, marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Agostinho nesse período se encontrou com Santo Ambrósio, bispo de Milão, sentindo-se extremamente atraído por suas pregações. Converteu-se ao cristianismo, tornando-se seu grande defensor pelo resto da vida.
Agostinho defendeu a superioridade da alma humana, isto é,a supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. A alma teria sido criada por Deus para reinar sobre o corpo, para dirigi-lo à prática do bem. A verdadeira liberdade estaria na harmonia das ações humanas com a vontade de Deus. Ser livre é servir a Deus, pois o prazer de pecar é a escravidão.
Segundo o filósofo, o homem que trilha a via do pecado só consegue retornar aos caminhos de Deus e da salvação mediante a combinação de seu esforço pessoal de vontade e a concessão, imprescindível, da graça divina. Sem a graça divina de Deus, o homem nada pode conseguir. E nem todas as pessoas são dignas de receber essa graça, mas somente alguns eleitos predestinados à salvação.
Obs. – Cícero (106-43aC.) –Orador e político romano que se inspirou no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista ,etc. entre os neoplatônicos, citam-se Platino (205-270) e Proclo (411-485).
De acordo com a doutrina da graça de Agostinho, a salvação não depende das boas ações dos indivíduos, mas da vontade de Deus para escolher os seus eleitos.

Na época de Agostinho, outro teólogo, Pelágio , afirmava que a boa vontade e s boas obras humanas seriam suficientes para a salvação individual. Era a doutrina do pelagianismo.
No concílio de Cartago do ano de 417, o papa Zózimo condenou o pelagianismo como heresia e adotou a concepção agostiniana da necessidade da graça divina,doada livremente por Deus aos seus eleitos.
O pelagianismo não podia ser adotado pela igreja católica porque conservava a noção grega da autonomia de vida moral humana, isto é, a noção de que o homem pode salvar-se por si só, sendo bom e fazendo boas obras, sem a necessidade da ajuda divina. Essa noção se chocava com a idéia de submissão total do homem ao Deus cristão, defendida pela Igreja.
Enquanto na filosofia grega o individuo se identifica com o cidadão. A filosofia cristã enfatiza no individuo sua vinculação pessoal com Deus.
Outro aspecto fundamental da filosofia agostiniana é o entendimento de que a vontade é uma força que determina a vida e não uma função especifica ligada ao intelecto.
Agostinho contrapõe-se, dessa forma, ao intelectualismo moral, que teve sua expressão máxima em Sócrates.
Isso significa que, de acordo com Santo Agostinho, a liberdade humana é própria da vontade e não da razão. E é nisso que reside a fonte do pecado.
O individuo peca porque usa de seu livre-arbitrio para satisfazer sua vontade, mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa. Por isso, Santo Agostinho afirma que o homem não pode ser autônomo em sua vida moral, isto é, deliberar livremente sobre sua conduta. Como o que conduz seus atos é a vontade e não a razão, o homem pode querer o mal, razão pela qual ele necessita da graça divina para salvar-se.
Agostinho também discutiu a diferença existente entre fé cristã e razão, afirmando que a fé nos faz crer em coisas que nem sempre entendemos pela razão.Dizia ser necessário crer para compreender, pois a fé ilumina os caminhos da razão, e que a compreensão nos confirma a crença, posteriormente. Para Agostinho, a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.
Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista , simbolizada pela luta entre o bem e o mal., a luz e as trevas, a alma e o corpo.
Insistia em que já nascemos pecadores (pecado original), e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência “natural” considerando o mal como o afastamento de Deus, defendendo a necessidade de uma intensa educação religiosa, tendo como finalidade reduzir essa distância.
Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados dos sentidos.
Do neoplatonismo, Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser buscada intelectualmente no “mundo das idéias” . Com o cristianismo, defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade.

Um comentário:

Unknown disse...

queria ressaltar que em seu comentário,quando diz que agostinho enfatiza o fato do homem ser passivel de salvação apenas com a graça divina e que nem "todos são 'dignos' de receber tao maravilhosa graça,apenas "alguns" voce contrai uma contradição,já que o termo dignidade do latim Dignitate que por si só se remete a ideia de integridade moral e qe segundo Kant essa moral é inerente ao ser humano pois é o unico ser que tem a autonomia do exercicio racional.logo voce esta afirmando que agostinho defende que o homem é digno de receber coisa alguma de DEUS.que conforme outros escritos do proprio agostinho condena tal posição.