domingo, 2 de novembro de 2008

Nietzsche - do julgamento da civilização à questão da existência humana


As filosofias da existência propriamente ditas surgiram somente no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos, entre eles : Schopenhauer, Kierkegaard, Husserl e Nietzsche.

Friedrich Nietzsche nasceu em Rocken, em 1844, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, possuía um gênio brilhante, tendo estudado grego, latim, teologia e filosofia. Em 1869, tornou-se professor titular de filosofia na Basiléia. E a partir da leitura de ‘O mundo como vontade e representação’, de Schopenhauer, sentiu-se profundamente atraído pelas reflexões filosóficas. Nietzsche critica a tradição da filosofia ocidental a partir de Sócrates, a qual acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática. Nessa análise, estabelece a distinção entre dois princípios:
O apolíneo e o dionisíaco - a partir, respectivamente de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade, o apolíneo e o dionisíaco, foram separados na Grécia socrática, que, ao optar pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia contida na dimensão dionisíaca.
Posteriormente, Nietzsche desenvolve uma crítica dos valores morais, ao propor uma nova abordagem dese mesmo tema: em "A genealogia da moral", ele estuda a origem e a história dos valores morais. A conclusão de Nietzsche foi a de que "não existem as noções absolutas de bem e de mal". Para ele as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos próprios homens, ou seja, são produtos da história humana. Os homens são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo das religiões.
Nietzsche julga um erro a submissão irrefletida aos valores dominantes da civilização cristã e da burguesa.
Pode ser considerado o primeiro niilista. Ser niilista significa não crer em nenhuma verdade moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos, o niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação da ‘morte de Deus’ isto é, na rejeição à crença de um ser absoluto, transcendental, capaz de traçar ‘o caminho, a verdade e a vida’ para o ser humano.

Arthur Schopenhauer



O filosofo alemão Arthur Schopenhauer.[1788-1860] foi o que atacou com maior veemência o pensamento de Hegel. Na sua opinião, Hegel seria um verdadeiro charlatão, que construiu sua filosofia os interesses do Estado prussiano.
Critico de Hegel, o filosofo Schopenhauer, desenvolveu uma visão pessimista da vida, encarada como uma historia de sofrimento. Por isso, aconselhava ‘´é mais feliz aquele que consegue viver sem grandes sofrimentos do que o outro que vive cercado de alegrias e prazeres[...] O tolo vive perseguindo a alegria da vida e acaba ludibriado, enquanto o sábio procura evitar o mal. ‘
Na obra “O mundo como vontade e representação”, Schopenhauer sustenta que, como o conhecimento é uma relação na qual o objeto é percebido pelo sujeito, o homem não conhece as coisas como elas são, mas como elas podem ser percebidas e interpretadas. Nesse aspecto, faz um retorno a Kant e se opõe à possibilidade do absoluto que Hegel preconizava. Para Schopenhauer, tudo o que o mundo inclui ou pode incluir é inevitavelmente dependente do sujeito, não existindo senão para o sujeito. O mundo é representação.
Com isso, ele quer dizer que não existe uma realidade exterior absoluta e que, para existir o conhecimento do mundo, e preciso existir o sujeito.
Dessa forma, Schopenhauer se afasta da reflexão de Kant e inicia sua própria filosofia. A representação do mundo é entendida por ele como “ilusão!, pois o objeto conhecido é condicionado pelo sujeito. Admite ser possível alcançar a essência das coisas, através de insight intuitivo, de uma espécie de iluminação. Nesse processo, a arte teria grande relevância, pois a atividade estética permitiria ao homem a compreensão da verdade. Pela arte, o sujeito se desprenderia de sua individualidade pra fundir-se no objeto,numa entrega pura e plena. Nesse ponto Schopenhauer seria um romântico”.
Sua filosofia, por outro angulo, se caracteriza pr uma visão pessimista do homem e da vida. Para ele, o ser humano seria essencialmente vontade, que o levaria a desejar sempre mais, produzindo uma insatisfação constante. Essa vontade, que se nas ações humanas. Se a essência do homem e do mundo é essa vontade insaciável, Schopenhauer identifica ai a origem das lutas entre os homens da dor e do sofrimento.
A historia é, para ele, a historia de lutas, onde “a infelicidade é a norma”, a regra geral. Portanto, a recusa da concepção racionalista de historia, elaborada por Hegel, segundo a qual a historia possui um sentido e progride em direção a uma maior liberdade. Para Schopenhauer, apenas pela arte e a ascese, ou seja, o abandono de si, pode o homem se libertar d dor. Inspirará as chamadas filosofias da existência.

Hegel: um projeto de conhecimento universal


George Wilhelm Friedrich Hegel [1770-1831], nascido em Stuttgart, foi o principal expoente do idealismo alemão. Ponto culminante do racionalismo. Busca oferecer respostas para o maior número de questões ao tentar reconciliar a filosofia com a realidade. O sistema “hegeliano” constitui a última grande expressão de um idealismo cultural, a última grande tentativa para fazer do pensamento, o refugio da ‘razão e da liberdade’.

Alguns pontos básicos do pensamento de Hegel:
1o) Entendimento da realidade como Espírito. Entender a realidade como espírito, de acordo com a filosofia de Hegel, é entende-la não apenas como substância - um enrijecimento do espírito, como pensava Schelling -, mas como sujeito. Isso significa pensar a realidade com processo, como movimento, e não somente com coisa (substância).
2o) A realidade, enquanto Espírito, possui uma vida própria, um movimento dialético. Ou, os diversos movimentos, sucessivos e contraditórios, pelos quais, determinada realidade se apresenta.
Hegel quer captar em sua filosofia o movimento dialético da realidade. Assim como um botão precisa desaparecer para que a flor surja, e a flor desaparece para que surja o fruto, da mesma forma, todas as coisas passam por um processo dinâmico de transformação que leva a uma síntese superior.
Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas dinâmica, e em seu movimento apresenta momentos que se contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente auto-enriquecimento.
Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou dialética.
Hegel compreende esse movimento do real, ou do Espírito que se realiza, como um movimento que se processa em três momentos:
- O primeiro, do ser em si;
- O segundo, do ser outro ou fora de si;
- O terceiro, do ser para si.
Esses três momentos, são comumente chamados de tese, antítese e síntese.
Hegel, os concebe como um movimento em espiral, um movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter mais avançado. O fio condutor dessa reflexão totalizante é a relação entre finito e infinito. Hegel acredita que o trabalho da filosofia é um trabalho de superação do entendimento finito e, limitado, das coisas finitas e limitadas, para alcançar o saber absoluto, que é o saber da coisa em si.
Como sistema filosófico a obra de Hegel procura demonstrar esse caminho do conhecimento finito ao conhecimento absoluto em vários campos do saber.
Em relação ao Espírito, Hegel reconheceu três momentos:
- O espírito subjetivo (que se refere ao indivíduo e à consciência individual);
- O espírito objetivo (que se refere às instituições e costumes historicamente produzidos pelos homens);
- O espírito absoluto (que se manifesta na arte, na religião e na filosofia, como espírito que se compreende a si mesmo). Hegel diz que ‘a história é o desdobramento do Espírito no tempo’. Tudo que é real, é racional, tudo que é racional é real. Isso equivale a dizer que todas as coisas existentes, mesmo as piores, fazem parte de um plano racional e que, portanto, tem um sentimento dentro do processo histórico. Tal afirmação hegeliana recebeu inúmeras crítica, já que pode levar a um certo conformismo ou a uma passividade diante das injustiças sociais. Marx foi um de seus principais críticos.

Immanuel Kant: o iluminismo alemão


O maior representante do Iluminismo alemão, Kant realizou em suas obras o exame das possibilidades de conhecimento da razão humana, estabelecendo os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o mundo.
Nascido em Konigsberg, na Alemanha [1724-1804] teve vida longa e tranqüila. Kant é o maior filosofo do Iluminismo alemã. Em seu texto – O que é a ilustração – o filosofo sintetiza o otimismo iluminista em relação à possibilidade de o homem se guiar por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias.
Ele apresenta o processo de ilustração como sendo, a tomada de consciência por ele da autonomia da razão na fundamentação do agir humano.
O ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da filosofia Kantiana. Kant afirma que a filosofia deve responder a quatro questões fundamentais: O que posso saber? Como devo agir? O que posso esperar? O que é o ser humano?
Tentando responder essas questões, ele desenvolveu um exame crítico da razão, a fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento humano. Esse exame está contido em sua obra mais celebre: “Crítica da razão pura”.
A capacidade de conhecer
Na Crítica da razão pura, ele distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
O conhecimento empírico – a posteriori – aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo: Este livro tem a capa verde;
O conhecimento puro – a priori – aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos. Que é anterior a experiência. Nasce puramente de uma operação racional. Ex. duas linha paralelas jamais se encontram no espaço. É uma afirmação universal é uma afirmação que para ser válida, não depende de nenhuma condição especifica. Trata-se de uma afirmação necessária. O conhecimento puro, portanto conduz a juízos universais e necessários, Os juízos, por sua vez, são classificados por Kant em dois tipos; Os analíticos e os sintéticos. O juízo analítico, é aquele em que o predicado já está contido no sujeito. Ex: o quadrado tem quatro lados. Analisando o sujeito quadrado, concluímos, necessariamente, o predicado: tem quatro lados. O juízo sintético – é aquele em que o predicado não está contido no sujeito. Ex: Os corpos se movimentam. Por mais que analisemos o conceito “corpo”[sujeito] não extrairemos a informação representada pelo predicado “se movimentam”.
Juízo analítico – Serve para explicar aquilo que já se conhece do sujeito. O juízo analítico é universal e necessário. Mas a rigor, é pouco útil , no sentido de que não conduz a conhecimentos novos.
Juízo sintético a posteriori - - está diretamente ligado a nossa experiência sensorial. Tem uma validade sempre condicionada ao tempo e ao espaço em que se deu a experiência.
Juiz sintético a priori – É o mais importante por dois motivos: A) não estando limitado pela experiência, é universal e necessário e, B) seu predicado acrescenta novas informações ao sujeito, possibilitando uma ampliação do conhecimento.

O conhecimento: É o resultado de uma síntese entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido. Segundo Kant, é impossível conhecermos as coisas em si mesmas [o ser em si]. Só conhecemos as coisas tal como as percebemos [o ser para nós].
Essa posição epistemológica de Kant significa uma síntese entre idealismo e realismo.pois, para ele, o conhecimento não é dado nem pelo sujeito nem pelo objeto, mas pela “relação” que se estabelece entre esses dois pólos. O que podemos conhecer são apenas os “fenômenos” , ou seja, os objetos tais como eles aparecem para nós, mas não como eles são em si mesmos.
Não podemos conhecer as coisas em si?
Porque percebemos a realidade a partir das formas a priori da sensibilidade: o ‘tempo’e o ‘espaço’ isso quer dizer que a nossa capacidade de representar as coisas se dá sempre no tempo e no espaço. Essas noções são ‘intuições puras’ existem como representantes básicas na nossa sensibilidade.
Através de seu racionalismo critico, Kant tentou formular a síntese entre sujeito e objeto, entre racionalismo dogmático e empirismo, mostrando que, ao conhecermos a realidade do mundo, participamos de sua construção mental, ou seja: das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas.

A ética kantiana
Na “critica da razão pratica”, Kant faz o exame do comportamento moral.
Para Kant, não é possível dizer nada sobre a ‘alma humana’ e sobre ‘Deus’ pois eles ultrapassam a nossa capacidade de entendimento. Isso colocou um problema em relação à tradição moral, até então alicerçada na existência de Deus. Sendo impossível provar a existência ou não de Deus, Kant fundamentou a moral na ‘autonomia da razão humana’, isto é, na idéia de que as normas morais devem surgir da razão humana.
Dessa forma ele recusou todas as éticas anteriores, fundamentadas em normas e valores de origens diversas.
Ele entende que a razão é uma característica universal dos seres humanos, sendo a característica propriamente humana , que nos distingue dos outros seres da natureza.
Assim para impedir que os indivíduos se deixem levar pelos seus desejos, paixões ou motivos particulares, é a razão que deve indicar quais são os deveres e normas a serem seguidos de uma forma universal.
Kant afirmou que conduta humana deve se pautar pela seguinte orientação básica, que ele denominou ‘imperativo categórico’. Age de tal forma que o princípio moral de tua ação possa tornar-se uma lei universal. Para Kant, o objetivo maior da educação é o desenvolvimento moral ou seja, possibilitar ao indivíduo que elabore sua autonomia moral. Com isso Kant quer dizer que ao agirmos, devemos pensar se aquilo que estamos fazendo poderia ser feito também por todas as outras pessoas, sem prejuízo para a humanidade.
Para Kant, também, o fundamental na avaliação de uma conduta moral é a intenção de que praticou, independentemente dos efeitos que tal conduta possa vir a provocar. E a melhor intenção é aquela que se volta para o cumprimento do dever. Agir de acordo com o dever é , agir de acordo com os princípios racionais. Não basta, para uma ação ser considerada moralmente boa. É preciso mais do que isso:é necessário que o individuo ‘reconheça’ naquele dever o principio racional que o sustenta.
Essa intenção bem determinada em relação à aceitação e ao cumprimento do dever é o que ele designa ‘boa vontade’, a boa vontade é o que caracteriza a ação moralmente correta. Kant dirá: A liberdade é a condição da lei moral. Só pode ser considerada uma ação moral aquela que for realizada de forma livre e autônoma. Sem liberdade, não há verdadeiramente moral. Kant, propondo uma concepção de liberdade que coincide com o atendimento do dever, pois para ele a liberdade seria uma possibilidade advinda da razão, a qual nos liberta dos caprichos e inclinações próprios dos sentidos. Dessa forma, a liberdade como uma exigência de moralidade, do mesmo modo as idéias da existência de Deus e da imortalidade da alma, são necessidades morais do homem.A ética kantiana e´ uma ética ‘formalista’. Ela não fornece os conteúdos morais, apenas o imperativo categórico, que deve servir como ‘orientação na escolha desses conteúdos’ baseada em uma concepção de uma natureza humana racional e livre. Kant é um dos filósofos que mais influenciaram o pensamento contemporâneo.

David Hume


O costume é, pois, grande guia da vida humana. É o único principio que torna útil nossa experiência e nos faz esperar, no futuro, uma série de eventos semelhantes àqueles que aparecem no passado.
Nascido em Edimburgo, Escócia, David Hume [1711-1776] estudou filosofia , Direito e comércio. Ocupou importante posição na diplomacia inglesa. Estabeleceu contatos com grandes pensadores da época, entre eles, Adam Smith e Jean Jacques Rousseau.
Na obra – Investigação acerca do entendimento humano- Hume formulou a sua teoria do conhecimento. Dividiu, primeiramente, tudo aquilo que percebemos em impressões e idéias. As impressões referem-se aos dados fornecidos pelos sentidos, como, pr exemplo, as impressões visuais,auditivas, táteis. As idéias referem-se às representações mentais [memória, imaginação] derivadas das impressões . assim, toda idéia é uma cópia de alguma impressão
Para Hume, somente o raciocínio dedutivo, utilizado na matemática fundamenta-se numa lógica racional.
O grande valor da obra de Hume foi ter deixado um importante problema para os teóricos do conhecimento [epistemologistas] , afinal, é ou não possível partirmos de experiências particulares para chegarmos a conclusões gerais, representadas pelas leis cientificas?
Enquanto o senso comum acredita que por meio de observações repetidas realizadas no passado, podemos justificar nossas expectativas futuras, Hume sustenta que a repetição de um fato não nos permite concluir em termos lógicos , que ele continuará a repetir-se da mesma forma, indiferentemente. Assim, Hume revela um ceticismo teórico. Desconfiado das convicções arraigadas pelo hábito, o cientista deve apresentar suas teses como probabilidades lógicas e não certezas irrefutáveis.

A existência das coisas nada mais é, do que a percepção que temos dessa existência.


George Berkeley desenvolveu uma reflexão que, ao mesmo tempo, afirma e nega o empirismo. Afirma o empirismo quando reconhece que todo conhecimento provém dos sentidos, que percebemos os seres existentes. Mas nega o empirismo, quando diz que os seres existentes se reduzem à percepção que nós temos deles.
Nascido em Kilkenny, na Irlanda do Sul, George Berkeley, (1685-1753), fez seus estudos superiores no Trinity College de Dublin, onde mais tarde se tornaria professor, lecionando grego e teologia. Em 1710, aos 25 anos, publicou o “Tratado sobre os princípios do conhecimento humano”. Em 1734, tornou-se bispo da Igreja Anglicana.
Berkeley defende que todo o nosso conhecimento do mundo exterior resume-se a aquilo que captamos pelos sentidos. Assim a, existência das coisas nada mais é, do que a percepção que temos dessa existência.
Isso significa que toda a realidade material restringe-se à idéia que fazemos das coisas Berkeley nega, desse modo a existência da ateria, com o substancia independente da mente, “o que os olhos vêem e as mãos tocam existe; existe realmente, não o nego”. Só nego o que os filósofos chamam matéria ou substância corpórea, ou seja, apesar de seu empirismo, Berkeley, como homem religioso que era, defendeu a imaterialidade do mundo.Berkeley defendeu a existência de uma mente cósmica representada por Deus, para ele, Deus percebe de modo absoluto, a existência de todos os seres. E essa percepção de Deus é que garante e sustenta a existência das coisas, mas sempre como “seres percebidos”, pela mente divina. Pra Berkeley, o mundo nada mais é do que uma relação entre Deus e os espíritos humanos.

Ao nascer o homem é uma tábula rasa


Um dos maiores representantes do empirismo, Locke afirma que não há nada em nossa mente que não tenha passado antes pelos nossos sentidos.
Nascido em Wrington, Inglaterra, John Locke (1632-1704) estudou na universidade de Oxford, formou-se em medicina.
Em 1675, exilou-se na França, deslocando-se, mais tarde, para a Holanda, Regressou à Inglaterra somente em 1688, participando da chamada Revolução Gloriosa , que levou Guilherme de Orange ao trono da Inglaterra. Em sua obra “Ensaio acerca do entendimento humano”, defendeu que nossa mente, no instante de nascimento, é como uma tabula rasa, um papel em branco sem nenhuma idéia previamente escrita.
Todas as idéias que possuímos são adquiridas a longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Locke utiliza o termo idéia no sentido de todo conteúdo do processo do conhecimento.
Para ele, nossas primeiras idéias, as sensações, nos vêm à mente através dos sentidos (experiência sensorial), sendo moldadas pelas qualidades próprias dos objetos externos.pr sensação Locke entende, pr exemplo, as idéias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce etc.Depois, combinando e associando as sensações, por um processo de reflexão, a mente desenvolve outra série de idéias que, segundo Locke, não poderia ser obtida das coisas externas, tais como a percepção, pensamento, o duvidar, crer, raciocinar.

O homem é o lobo do homem


Hobbes , desenvolveu uma compreensão materialista mecanicista da realidade na qual as coisas poderiam ser explicadas por meio da relação de causa e efeito.
A filosofia de Hobbes (1588-1679), é marcada por uma profunda influencia de Bacon e Galileu, buscou investigar as causas e propriedades das coisas. Na definição de Hobbes, filosofia é a ciência dos corpos, que se dividem em corpos naturais [filosofia da natureza] e corpo artificial ou Estado filosofia política.
Toda a realidade poderia ser explicada a partir de dois elementos do corpo entendido como aquilo que não depende do nosso pensamento, e do movimento, que pode ser determinado matemática e geometricamente. Assim as qualidades seriam “fantasias do sensível, ou seja, efeitos dos corpos e de seus movimentos”.
No pensamento de Hobbes não há lugar para a liberdade, porque os movimentos se derivam necessariamente dos nexos causais que lhe dão origem.

Da mesma forma não há espaço o bem e o mal e, portanto, para os valores morais. O que chamamos de bem é tão somente aquilo para o qual tendemos, enquanto o mal é apenas aquilo do que fugimos , a conservação da vida é o valor máximo para cada indivíduo .
Mas, se o bem e o mal são relativos, isto é, são determinados pelos indivíduos como será possível a convivência entre os homens. Hobbes responde a essa questão nos livros Leviatã e De civis, nos quais sustenta a necessidade de um poder absoluto que mantenha os homens em sociedade e impeça que eles se destruam mutuamente.

EMPIRISMO

A experiência é fundamental.

As grandes transformações ocorridas a partir do Renascimento e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar, entre outras coisas, os critérios e métodos para a aquisição de um conhecimento verdadeiro.
Filósofos do dos séculos XVII e XVIII. Formularam diversas epistemologias ou teorias do conhecimento. As duas principais vertentes foram a racionalista e a empirista.
O racionalismo moderno teve, em René Descartes, seu primeiro e principal expoente. O ponto de partida da filosofia cartesiana é o sujeito pensante. E não mundo exterior. O sujeito pensante, segundo Descartes, possuiria idéias inatas, isto é, idéias que teriam nascido com individuo, que dispensariam um objeto para faze-las existir.
O empirismo, por sua vez, nega a existência de idéias inatas e enfatiza o objeto pensado. Defende que o processo de conhecimento depende da experiência sensível.para os empiristas, o conhecimento humano provém de duas fontes básicas; a nossa percepção do mundo externo e o exame interno da nossa atividade mental[reflexão].
O palco inicial d empirismo moderno foi a Inglaterra . Nesse país a burguesia, a partir do século XVII, conquistou poder econômico , político e ideológico. Impondo o fim do absolutismo monárquico [Revolução Gloriosa], essa ascensão da burguesia relaciona-se no plano epistemológico, ao empirismo[valorização da experiência concreta,da investigação natural] e no plano sociopolítico, ao nascimento do liberalismo[valorização da liberdade pessoal d cidadão e exigência de limites constitucionais ao poder monárquico.
Entre os principais representantes do chamado empirismo inglês destacam-se Francis Bacon Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley e David Hume .

Espinosa e o racionalismo absoluto


Baruch Espinosa (1632-1677) nasceu na Holanda e era filho de imigrantes judeus de origem hispano portuguesa . Desenvolveu um racionalismo radical, que se caracterizou pela crítica às superstições religiosa, política e filosófica.
De acordo com espinosa , a fonte de toda superstição é a imagem incapaz de compreender a verdadeira ordem do universo. Como é incapaz de conhecer verdadeiramente , a imaginação credita a realidade a um Deus transcendental. E voluntarioso, nas mãos de que os homens não passam de joguetes. A partir da superstição religiosa, desenvolvem-se as superstições políticas e filosóficas.
Para combater essas superstições, Espinosa escreveu a Ética texto no qual demonstra, ao modo de uma demonstração geométrica, a natureza racional de Deus, que se manifesta em todas as coisas [Deus imanente]
No interir desse entendimento racionalista, não há lugar para tragédia nem mistérios, tudo se torna compreensível à luz da razão. A filosofia seria o conhecimento racional de Deus e a liberdade humana se torna a consciência da necessidade. Ou seja, não há livre arbítrio , uma vez que Deus se identifica com a natureza e, portanto, tudo o que existe é necessário, na pode ser diferente pis faz parte da natureza divina . por isso, Espinosa dizia natureza é Deus.
Ética demonstrada segundo ordem geométrica, de B. de Espinosa, edição bilíngüe, latim/português.tradução e notas por Tomaz Tadeu. Autentica Editora, 424 pags.R$ 68
Maurício Rocha
Tomaz Tadeu, ex-professor da UFRGS, com vários estudos na área de educação inspirados em Foucault e Deleuze, apresenta sua tradução da ‘ética’ demonstrada segundo a ordem geométrica. É a terceira em português, 70 anos após a primeira brasileira, por Livio Xavier, seis décadas após a editora em Coimbra por Joaquim de Carvalho e colaboradores [republica na coleção ‘Os pensadores’ desde 1973].
Par os leitores brasileiros do filosofo, dentro e fora das universidades, e feitio é um evento e tanto. A edição traz o original em latim estabelecido por Carl Gebhardt em 1925, a partir da edição da ‘Opera Posthuma de Espinosa’ publicada em 1677- que é a referencia das principais traduções contemporâneas em inglês, francês e espanhol.
A presença do texto latino permite reavaliar as soluções do tradutor, que incorporou lições das últimas quatro décadas de estudos sobre o filosofo e corrigiu equívocos das versões disponíveis [ inclusive francesas], como entre afecção e afeto[affectio/affectus]; potencia e poder [potentia/potestas], vertendo mens por mente e não por alma, entre outros vocábulos decisivos.
Fluência na tradução ajuda a desfazer imagem de ascético. A fluência da versão ,na qual o tradutor diz ter buscado a sonoridade do ‘portugues-brasileiro contemporâneo , judá a desfazer a imagem do filosofo austero e ascético, cujo aparato conceitual seria inacessível aos leigos. Mas podemos supor que mesmo um camponês pode ler ‘Espinosa’ , com narrou Bernard Malamud em seu romance ‘ O faz tudo’.
Nascido em uma família de judeus ibéricos residentes na Amsterdã, em 1632, Espinosa teve o português e o espanhol como idiomas da casa e da rua, e nas escolas da comunidade estudou hebraico. É certo que sabia holandês, como é certo que ignorou o inglês, o alemão e o grego. Segundo um biógrafo, Espinosa tinha ‘um ar português’ Carl Gebhardt cogitou que o filosofo pensava com a mesma língua que Camões. A hipótese. Nada fantasista, foi retomada por Joaquim de Carvalho, e ainda motiva disputas entre os ibéricos em torno das origens do filosofo.
O aprendizado do latim foi tardio. Um pouco anterior à sua exclusão da comunidade judaica, em 1656 (o texto violento do anátema acompanha a presente edição, assim como o inventário de bens deixado pelo filosofo). Alguns de seus tradutores e estudiosos afirmaram que ele ‘ não era Cícero’ que o latim da ‘Ética’ parece escolar. Cujo vocabulário sofreria de ‘penúria’ de fato, sem ser um erudito, Espinosa tomou emprestado formas e conteúdos do latim. Língua cientifica do seu tempo, e de clássicos como Terêncio e Ovídio, além da cultura barroca espanhola que conhecia bem. Tudo é mobilizado aqui e ali na ‘Ética’ onde as fórmulas retóricas são vocalizadas com o léxico da metafísica – daí dizer-se que a ‘Ética ‘ é uma catedral feita com peças de demolição. No entanto existe. Além de tudo, a disposição de todos esses elementos sob a ordem geométrica da exposição – que desconcerta, desafia e confunde os leitores.

O filosofo francês Blaise Pascal, (1623-1662), foi um pensador que refletiu sobre a condição trágica do ser humano; ao mesmo tempo magnífico e miserável, capaz de alcançar grandes verdades e gerar grandes erros. Sobre a situação paradoxal do homem em meio a toda a realidade existente, perguntou: No fundo, o que é o homem na natureza ? e nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao nada, algo de intermediário entre o nada e tudo.Pascal, dirá que o homem não pode conhecer o principio e o fim das realidades que busca compreender, ficando limitado apenas às aparências, já que, em suas palavras as compreende, ninguém mais pode faze-lo. Pascal afirma que a razão humana é impotente pra provar a existência de Deus, ficando por conta da fé a crença em um Deus cuja existência jamais poderá ser provada. De acordo com seu pensamento, o supremo passo da razão está em reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Dessa forma ele dirá “O coração e não a razão, é que sente Deus. E isto é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão. O que Pascal busca recuperar é o Deus de amor e consolação”, é um Deus que faz cada qual sentir interiormente a sua própria miséria e a misericórdia infinita de Deus.

O racionalismo de Renè Descartes: idéias claras e distintas



René Descartes é considerado o pai da filosofia moderna. René Descartes[1596-1650] nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou no clégio jesuíta de La Flèche . ingressando na carreira militar, mudou-se par a Holanda, onde participou de combates contra os espanhóis. Posteriormente, em 1619, viajou por vários países europeus, estabelecendo contatos com vários sábios de seu tempo ,entre eles “Blaise Pascal”[1623-1662]. Temendo perseguições religiosas e tendo em mente a condenação de Galileu,tomou uma série de cautelas na exposição de suas idéias. Apesar disso, o que publicou é suficientemente vasto e valioso para situa-lo como um dos pais da filosofia moderna.
Descartes afirmava que, para conhecermos a verdade, é preciso, de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
Fazendo uma aplicação metódica da duvida, o filosofo foi considerando como incertas todas as percepções sensoriais, todas as noções adquiridas sobre os objetos materiais . E prosseguiu assim, cada vez mais colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que constitui a realidade e o próprio conteúdo dos pensamentos. Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de dúvidas era a seguinte: meus pensamentos existem e a existência desses pensamentos se confunde com a essência da minha própria existência como ser pensante. Disso decorre a célebre conclusão de Descartes.
Penso, logo existo
É preciso esclarecer que o termo pensamento utilizado por Descartes tem um sentido bastante amplo, abrange tudo o que afirmamos, negamos, sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos. Assim, o ser humano era para ele, uma substancia essencialmente pensante. O pensamento é algo mais certo do que a própria matéria corporal.
Baseando –se nesse principio, toda filosofia posterior que sofreu a influencia de Descartes assumiu uma tendência idealista, isto é, uma tendência a valorizar a atividade do sujeito pensante em relação ao objeto pensado. Em outras palavras, uma tendência para ressaltar a prevalência da consciência subjetiva sobre o ser objetivo.
Descartes, foi um racionalista convicto, recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos freqüentes erros do conhecimento humano. Foi um grande matemático, teve importante contribuição para a criação da geometria analítica, que tornou possível a determinação de um ponto em um plano mediante duas linhas perpendiculares fixadas graficamente [as coordenadas cartesianas]
Da sua obra-Discurso do método.podemos destacar quatro regras básicas, capazes de conduzir espírito na busca de verdade:
1- Regra da evidencia –só aceitar algo como verdadeiro desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.
2- Regra da análise – dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolve-las melhor.
3- Regra da síntese – ordenar o raciocínio indo dos problemas mais simples para os mais complexos.
4- Regra da enumeração – realizar verificações completas e gerais para ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido. Com o seu método da dúvida crítica [dúvida cartesiana], Descartes abalou profundamente o edifício do conhecimento estabelecido. Descartes celebrizou-se não propriamente pelas questões que resolveu, mas, sobretudo pelos problemas que formulou , que foram herdados pelos filósofos posteriores.

Francis Bacon: o método experimental contra os ídolos


Nascido em Londres, Francis Bacon [1561-1626] pertencia a uma família de nobres. Francis Bacon, realizou uma obra cientifica de inegável valor.É considerado um dos fundadores do método indutivo de investigação cientifica. Atribui-se a ele, também a criação do lema –saber é poder.
Segundo Bacon, a ciência deveria valorizar a pesquisa experimental, tendo em vista proporcionar resultados objetivos para o homem.
O método indutivo de investigação, baseado na observação rigorosa dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas:
Observação da natureza para a coleta de informações;
Organização racional dos dados recolhidos empiricamente;
Formulação de explicações gerais [hipóteses] destinadas à compreensão do fenômeno estudado;
Comprovação da hipótese formulada mediante experimentações repetidas em novas circunstancias.
A grande contribuição de Francis Bacon para a historia da ciência moderna foi apresentar conhecimento cientifico como resultado de um método de investigação capaz de conciliar a observação dos fenômenos , a elaboração racional das hipóteses e a experimentação controlada para comprovar as conclusões obtidas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A escolástica pós-tomista


Grandes acontecimentos históricos marcaram a Europa nos séculos XIII e XIV, entre eles, estão a Guerra dos Cem anos, entre a França e a Inglaterra; a epidemia da peste bubônica, que matou cerca de três quartos da população européia; o cisma definitivo entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente, que, entre outros fatores, diminuiu a influencia da Igreja Católica Romana sobre o poder temporal (o estado) e sobre a população; a criação de novas universidades, que iniciam o desenvolvimento de questões relativas às ciências naturais e a autonomia da filosofia em relação à teologia. Levarão ao questionamento do pensamento escolástico bem como ao fim da Idade Média.
Os pensadores pós tomistas abriram cainho para a ciência moderna.
Entre os filósofos significativos desse período, destacam-se:
São Boaventura (1240-1284) –iniciou uma reação contra a filosofia tomista e buscou recuperar a tradição platônica agostiniana.
Roberto Grosseteste (1168-1243) e Roger Bacon (1214-1292) – iniciaram uma investigação experimental no campo das ciências naturais que abriu caminho para a ciência moderna.
Guilherme de Ockham (1280-1349)-Proclamou uma distinção absoluta entre fé e razão. De acordo com Ockham, a filosofia não é serva da teologia e a teologia não pode sequer ser considerada ciência, pois é tão somente um corpo de proposições mantidas não pela coerência racional, mas pela força da fé. Pensador empirista e nominalista, Ockham combateu a metafísica tradicional e iniciou o método da pesquisa cientifica moderna.

Santo Tomás de Aquino: a cristianização de Aristóteles


Santo Tomás de Aquino é a figura mais destacada do pensamento cristão medieval. Elaborou os princípios da doutrina cristã numa síntese filosófica que teve como base o pensamento de Aristóteles, através das traduções de Averróis, filósofo árabe.
Tomás de Aquino (1226-1274), nasceu em Nápoles, sul da Itália, e faleceu no convento Fossanuova, próximo de sua cidade natal, aos 49 anos de idade. É considerado o maior filósofo da escolástica medieval.
A filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo), nasceu com objetivos claros: não contrarias a fé. A finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo.
Reviveu em grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de nele buscar os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a serviço da religião católica.
Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. Ressaltou uma série de princípios considerados básicos:

Principio da não contradição –O ser é ou não é. Não existe nada que possa ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista.
Principio da substância – na existência dos seres podemos distinguir a substancia ( a essência, propriamente dita, de uma coisa, sem a qual ela não seria aquilo que é), do acidente (a qualidade não essencial, acessória do ser);
Principio da causa eficiente - todos os seres que captamos pelos sentidos são seres contingentes, isto é. Não possuem, em si próprios, a causa eficiente de suas existências. Para existir, o ser contingente depende de outro ser, chamado de ser necessário.
Principio da finalidade – todo ser contingente existe em função de uma finalidade, de um objetivo, de uma razão de ser.
Principio do ato e da potência – todo ser contingente possui duas dimensões: o ato e a potência. O ato representa a existência atual do ser, aquilo que está realizado e determinado. A potência representa a capacidade real do ser, aquilo que não se realizou mas pode realizar-se. É a passagem da potência para o ato que explica toda e qualquer mudança.
O filósofo escolástico empreendeu foi uma sistematização da doutrina cristã que se apóia em parte na filosofia aristotélica, mas que contém muitos elementos estranhos ao aristotelismo . o conceito de criação de um deus [único, a idéia de que o vir-a-ser , não é autodeterminado,mas precede de Deus.
Santo Tomás introduziu uma distinção entre o ser e a essência, dividindo a metafísica em duas partes: a do ser em geral e a do ser pleno que é Deus.
Deus é ato puro, não há o que se realizar ou se atualizar em Deus, pois ele é completo. Ele dirá que Deus é ser, ou seja, Deus é o Ser que existe como fundamento da realidade das outras essências que, uma vez existentes participam de seu Ser.
O Ser é diferente da essência, pois as criaturas são seres não necessários. É Deus que permite ás essências realizarem-se em entes, em seres existentes.

As provas da existência de Deus

Outro aspecto fundamental da filosofia tomista é a prova da existência de Deus. Em um de seus mais famosos livros, a Suma teológica, Santo Tomás propõe cinco provas da existência de Deus:
O primeiro motor – tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para que se mova, necessita também que seja movido por outro ser. E assim sucessivamente. Logo, conclui Tomás de Aquino, é necessário chegar a um primeiro ser movente, que não seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus.
A causa eficiente – todas as coisas existentes no mundo não possuem em si próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser considerados efeitos de alguma causa. Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus.
Ser necessário e ser contingente – este argumento é uma variante do segundo. Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que existem podem deixar de ser, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente começa a existir em função de algo que já existia. É preciso admitir, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus.
Os graus de perfeição – em relação à qualidade de todas as coisas existentes, pode-se firmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim afirmamos que tal coisa é melhor que outra, ou mais bela, ou mais poderosa, ou mais verdadeira. Se uma coisa possui “mais ou menos” determinada qualidade positiva, isso supõe que deve existir um ser com o máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Um ser máximo e pleno. Esse ser é Deus.
A finalidade do ser – todas as coisas brutas que não possuem inteligência própria. Existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir, então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo. Esse ser é Deus.

Esse mérito de Tomaz de Aquino, o proclamou, pela Igreja católica, como o "Doutor Angélico" e "Doutor por Excelência". Tomás de Aquino é permanentemente reverenciado nos meios católicos pelos filósofos e professores de filosofia. No entanto, filósofos não cristãos, como Bertrand Russell questionam os méritos filosóficos de Tomás de Aquino, considerando-os insuficientes para justificar sua imensa reputação.Em que pese essa discordância de opiniões sobre os méritos de Tomás de Aquino, é praticamente unânime o reconhecimento de que sua obra filosófica representou o apogeu do pensamento medieval católico. O tomismo, entretanto, foi sendo progressivamente questionado pelos movimentos filosóficos que se desenvolveram na Renascença e na Idade Moderna.

Escolástica: os caminhos de inspiração aristotélica até Deus


No século VIII Carlos Magno organizou o ensino e fundou escolas ligadas às instituições católicas. A cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então voltou a ser divulgada, passando a ter uma influencia mais marcante nas reflexões da época. Era o período da – renascença carolíngia
Tendo a educação romana, como modelo, começaram a ser ensinadas meterias como gramática, retórica e dialética (o trivium) e geometria, aritmética, astronomia e música ( o quadrivium). Todas submetidas à teologia.
No ambiente cultural dessas escolas e das primeiras universidades do século XI , surgiu uma produção filosófico-teológica denominada escolástica (de escola).
A partir das traduções e comentários feitos pelos filósofos árabes que as obras de física, metafísica e ética passaram a ser conhecidas na Europa.
Filósofos árabes como Avicena e Averróis foram muito importantes na divulgação das obras de Aristóteles. Isso ocorreu porque, a partir do século VI, os árabes iniciaram uma série de guerras religiosas, buscando difundir o islamismo. Dessa forma conquistaram parte do Oriente e entraram em contato com a cultura grega, que influenciava essas religiões. Desde as conquistas de Alexandre Magno. Em 711, os árabes conquistaram parte da península Ibérica e a partir dessa região, passaram a exercer um influencia notável sobre vários setores da cultura européia, tanto na arquitetura como na literatura, nas ciências e na filosofia.
Renascença carolíngia –refere-se ao estímulo dado `atividade cultural (letras,artes, educação), que marcou o governo de Carlos Magno. A obra realizada nessa época muito contribuiu para a preservação e a transmissão da cultura da Antiguidade clássica.
No período escolástico, a busca de harmonização entre a fé cristã e a razão manteve-se como problema básico de especulação filosófica. Pode ser dividida em três fases:
Primeira fase – (do século IX ao fim do século XII), caracterizada pela confiança na perfeita harmonia entre fé e razão.
Segunda fase – ( do século XIII ao principio do século XIV) –caracterizada pela elaboração de grandes sistemas filosóficos, merecendo destaque as obras de Tomás de Aquino. A harmonização entre fé e razão pode ser parcialmente obtida.
Terceira fase –(do século XIV até o século XVI)- decadência da escolástica, caracterizada pela afirmação das diferenças fundamentais entre fé e razão.

Além de apresentar a característica fundamental da filosofia medieval, que é a referencia às questões teológicas, a escolástica trouxe significativos avanços no estudo da lógica.
Um dos principais filósofos que contribuiu para o desenvolvimento dos estudos lógicos foi Boécio que, embora tenha vivido de 480 a 524, é considerado o primeiro dos escolásticos, ele aperfeiçoou o quadrado lógico, sistema de relações entre afirmativas que fornece a base lógica para garantir a validade de certas formas elementares de raciocínio. Foi o primeiro a introduzir a questão dos universais , problema filosófico longamente discutido por todo o período da escolástica.

A questão dos universais: o que há entre as palavras e s coisas

O método escolástico de investigação, privilegiava o estudo da linguagem para depois passar para o exame das coisas. Desse método surgiu a seguinte pergunta: Qual a relação entre as palavras e as coisas?
Rosa, por exemplo, é o nome de uma flor. Quando a flor morre , a palavra rosa continua existindo, nesse caso, a palavra fala de uma coisa inexistente, de uma idéia geral. Mas como isso acontece? O grande inspirador da questão foi o filosofo neoplatônico Porfírio (234-305, aproximadamente), em sua obra Isagoge.
Esse problema filosófico gerou muitas disputas. Era a grande discussão sobre a existência ou não das idéias gerais.isto é, os chamados universais de Aristóteles, tal discussão ficou conhecida como a questão dos universais, isto é, da relação entre as coisas e seus conceitos, e envolvia problemas lingüísticos e gnoseológicos (relativos `a questão do conhecimento, também teológicos.
Surgiram duas posições antagônicas: o realismo e o nominalismo.
O realismo, sustentava a tese de que os universais existiam de fato, as idéias universais existiriam por si mesmas, Assim, por exemplo, a bondade, a beleza, seriam modelos ou moldes a partir dos quais se criariam as coisas boas e as coisas belas. Os termos universais seriam entidades metafísicas, essências separadas das coisas individuais.
Posição defendida por Santo Anselmo(1035-1109), que acreditava que as idéias universais existiriam na mente divina. O filosofo e bispo francês Guilherme de Campeaux(1070-1121), também era realista e acreditava que entre o universo das coisas e o universo dos havia uma analogia .
O Nominalismo, sustentava a tese de que os termos universais, tais como beleza, bondade etc. não existiriam em si mesmos, pois seriam apenas palavras se uma existência real. Para os nominalistas, o que existe são apenas os seres singulares, e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.
Essa era a posição do filósofo francês Roscelin de Compiègne ( 1050-1120), segundo o qual só existia a individualidade. Roscelim também negava que Deus pudesse ser uno e trino ao mesmo tempo, porque, para ele, cada pessoa da trindade seria uma individualidade separada.
Entre essas duas posições contrárias, surgiu uma terceira, o realismo moderado sustentado por Pedro Abelardo(1079-1142).
Filosofo de grande prestigio, Pedro Abelardo, desenvolveu a reflexão no campo da lógica e mostrou-se um humanista no campo da ética. Em relação à teologia, acreditava que ara necessário “ entender par crer” , cultivando a razão crítica, o que suscitou ásperas polemicas com os pensadores conservadores de seu tempo.
De acordo com Abelardo, só existem as realidades singulares. No entanto, é possível que se busquem semelhanças entre os seres individuais, através de abstração, de tal maneira a geral os conceitos universais. Tais conceitos não seriam de acordo com Abelardo, nem entidades metafísicas (posição do realismo), nem palavras vazias (posição do nominalismo), e sim discursos mentais, categorias lógico-linguisticas que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser. A importância da questão dos universais está no avanço que essa discussão possibilitou em relação à busca do conhecimento da realidade, mas também porque, através dela, se alcançou um alto nível de desenvolvimento lógico-linguistico, que propiciou o surgimento de uma razão autônoma em relação à teologia, por volta do século XII.

Santo Agostinho: A certeza da razão por meio da fé


Aureliano Agostinho (354-430), nasceu em Tagaste, província romana situada na África e faleceu em Hipona, hoje localizada na Argélia. Nesta cidade ocupou o cargo de bispo da Igreja católica . até completar 32 anos Agostinho não era cristão. Teve uma vida voltada aos prazeres do mundo. De uma ligação amorosa ilícita para a época, nasceu-lhe o filho Adeodato.
Em sua formação intelectual, Agostinho sentiu-se despertado para a filosofia pela leitura de Cícero. Deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal. Mantendo uma incessante luta entre si.
Mais tarde, viajou para Roma e Milão, entrando em contato com o ceticismo e, depois com o neoplatonismo, movimento filosófico do período greco-romano, inspirados em Platão, que se espalhou por diversas cidades do Império Romano, marcado por sentimentos religiosos e crenças místicas.
Agostinho nesse período se encontrou com Santo Ambrósio, bispo de Milão, sentindo-se extremamente atraído por suas pregações. Converteu-se ao cristianismo, tornando-se seu grande defensor pelo resto da vida.
Agostinho defendeu a superioridade da alma humana, isto é,a supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. A alma teria sido criada por Deus para reinar sobre o corpo, para dirigi-lo à prática do bem. A verdadeira liberdade estaria na harmonia das ações humanas com a vontade de Deus. Ser livre é servir a Deus, pois o prazer de pecar é a escravidão.
Segundo o filósofo, o homem que trilha a via do pecado só consegue retornar aos caminhos de Deus e da salvação mediante a combinação de seu esforço pessoal de vontade e a concessão, imprescindível, da graça divina. Sem a graça divina de Deus, o homem nada pode conseguir. E nem todas as pessoas são dignas de receber essa graça, mas somente alguns eleitos predestinados à salvação.
Obs. – Cícero (106-43aC.) –Orador e político romano que se inspirou no ecletismo – a busca de um acordo entre os ensinamentos das escolas platônica, aristotélica, hedonista ,etc. entre os neoplatônicos, citam-se Platino (205-270) e Proclo (411-485).
De acordo com a doutrina da graça de Agostinho, a salvação não depende das boas ações dos indivíduos, mas da vontade de Deus para escolher os seus eleitos.

Na época de Agostinho, outro teólogo, Pelágio , afirmava que a boa vontade e s boas obras humanas seriam suficientes para a salvação individual. Era a doutrina do pelagianismo.
No concílio de Cartago do ano de 417, o papa Zózimo condenou o pelagianismo como heresia e adotou a concepção agostiniana da necessidade da graça divina,doada livremente por Deus aos seus eleitos.
O pelagianismo não podia ser adotado pela igreja católica porque conservava a noção grega da autonomia de vida moral humana, isto é, a noção de que o homem pode salvar-se por si só, sendo bom e fazendo boas obras, sem a necessidade da ajuda divina. Essa noção se chocava com a idéia de submissão total do homem ao Deus cristão, defendida pela Igreja.
Enquanto na filosofia grega o individuo se identifica com o cidadão. A filosofia cristã enfatiza no individuo sua vinculação pessoal com Deus.
Outro aspecto fundamental da filosofia agostiniana é o entendimento de que a vontade é uma força que determina a vida e não uma função especifica ligada ao intelecto.
Agostinho contrapõe-se, dessa forma, ao intelectualismo moral, que teve sua expressão máxima em Sócrates.
Isso significa que, de acordo com Santo Agostinho, a liberdade humana é própria da vontade e não da razão. E é nisso que reside a fonte do pecado.
O individuo peca porque usa de seu livre-arbitrio para satisfazer sua vontade, mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa. Por isso, Santo Agostinho afirma que o homem não pode ser autônomo em sua vida moral, isto é, deliberar livremente sobre sua conduta. Como o que conduz seus atos é a vontade e não a razão, o homem pode querer o mal, razão pela qual ele necessita da graça divina para salvar-se.
Agostinho também discutiu a diferença existente entre fé cristã e razão, afirmando que a fé nos faz crer em coisas que nem sempre entendemos pela razão.Dizia ser necessário crer para compreender, pois a fé ilumina os caminhos da razão, e que a compreensão nos confirma a crença, posteriormente. Para Agostinho, a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. Vem depois a razão esclarecendo aquilo que a fé já antecipou.
Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista , simbolizada pela luta entre o bem e o mal., a luz e as trevas, a alma e o corpo.
Insistia em que já nascemos pecadores (pecado original), e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência “natural” considerando o mal como o afastamento de Deus, defendendo a necessidade de uma intensa educação religiosa, tendo como finalidade reduzir essa distância.
Do ceticismo ficou a permanente desconfiança nos dados dos sentidos.
Do neoplatonismo, Agostinho assimilou a concepção de que a verdade, como conhecimento eterno, deveria ser buscada intelectualmente no “mundo das idéias” . Com o cristianismo, defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade.

A Filosofia medieval e o cristianismo


Em meio ao esfacelamento do Império, decorrente, em grande parte, das invasões germânicas, a Igreja católica conseguiu manter-se como instituição social, consolidou sua organização religiosa e difundiu o cristianismo, preservando, também, muitos elementos da cultura greco- romana. Apoiada em sua crescente influencia religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade medieval. Desempenhou a função de conciliadora das elites dominantes, contornando os problemas das rivalidades internas da nobreza feudal. Conquistou, também, vasta riqueza material: tornou-se dona de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental.


No plano cultural, a Igreja exerceu ampla influência, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o pré-suposto da vida espiritual.
Consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades expressas nas Sagradas Escrituras (Bíblia) e interpretadas segundo a autoridade da Igreja.
De acordo com a doutrina católica a fé representava a fonte mais elevada das verdades reveladas – Afirmava Santo Ambrósio (340-397, aproximadamente): Toda verdade, dita por quem quer que seja, é do Espírito Santo.
Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de modo algum, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Os filósofos não precisavam se dedicar à busca da verdade, pois ela já havia sido revelada por Deus aos homens. Restava-lhes, demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Religiosos desprezavam a filosofia grega, sobretudo porque viam nessa forma pagã de pensamento uma porta aberta para o pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia.
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam o conhecimento da filosofia grega, sentindo a possibilidade de utiliza-la como instrumento a serviço do cristianismo. O objetivo era convencer os descrentes, pela razão para depois faze-los aceitar a imensidão dos mistérios divinos.
Nesse contexto, a filosofia medieval pode ser dividida em quatro momentos principais:
Padres apostólicos – do início do cristianismo (século I e II), entre os quais se incluem os apóstolos, que disseminavam a palavra de Cristo, sobretudo em relação aos temas morais. Entre estes se destaca a figura de São Paulo pelo volume e valor literário de sua epístolas ( cartas escritas por um dos apóstolos);
Padres apologistas (século III e IV), que faziam a apologia do cristianismo contra a filosofia pagã. Destacam-se : Orígenes, Justino e Tertuliano, o mais intransigente na defesa da fé contra a filosofia grega.
Patrística ( de meados do século IV ao século VIII), no qual se busca uma conciliação entre a razão e a fé e se destacam a figura de Santo Agostinho e a influência da filosofia platônica;
Escolástica ( do século IX a XVI), no qual se buscou uma sistematização da filosofia cristã, a partir da interpretação da filosofia de Aristóteles e se destaca a figura de Santo Tomás de Aquino.
A característica fundamental dessa filosofia medieval é a ênfase nas questões teológicas, como o dogma da Trindade, a encarnação de Deus-filho, a liberdade e a salvação, a relação entre fé e razão.

Os dois momentos mais importantes da filosofia medieval – a patrística e a escolástica.

Período greco-romano: a filosofia pagã e a penetração do cristianismo

O último período da filosofia antiga, conhecido como greco-romano, corresponde, em termos históricos, à fase de expansão militar de Roma (desde as Guerras Púnicas, iniciadas em 264 aC. Até a decadência do Império Romano, em fins do século V da era cristã).
Os principais pensadores desse período, como Sêneca, Cícero, Plotino, Plutarco, dedicaram-se muito mais à tarefa de assimilar e desenvolver as contribuições culturais herdadas principalmente da Grécia clássica do que de criar novos caminhos para a filosofia.
A progressiva penetração do cristianismo, no decadente Império Romano é ma da características fundamentais desse período.
A difusão e a consolidação do cristianismo, através da Igreja católica, atuaram no sentido de dissolver a força da filosofia grega clássica, que passou a ser qualificada de pagã ( própria dos povos não cristãos).

Sêneca, filósofo romano que desenvolveu a filosofia estóica. Para ele, a principal causa do sofrimento humano é a fraqueza de vontade que nos leva à cobiça, inveja, crueldade, ambição etc. Segundo Sêneca, a pessoa que domina sua vontade comanda seu destino; quem não domina sua vontade é arrastado pelo destino.

Helenismo: o mundo da solidão humana

Com a conquista da Grécia pelos macedônicos (322aC.), tem início o chamado período helenístico. Devido á expansão militar do Império Macedônico, efetuada por Alexandre Magno, o período helenístico caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados.
Na historia da filosofia, a produção filosófica do período helenístico corresponde basicamente à continuação das atividades das escolas platônica.
Há uma transformação em relação ao passado nesse período. Os valores gregos mesclam-se com as mais diversas tradições culturais. E o cidadão não pode mais influir na vida política.
Com o declínio da importância da participação do cidadão nos destinos da cidade, a reflexão política é abandonada pela filosofia, substitui-se, assim, a vida pública pela privada como centro de reflexões. As preocupações coletivas cedem lugar às preocupações individuais.
As principais correntes filosóficas desse período vão tratar da intimidade da vida interior do homem. Formulam-se, então, diversas regras de conduta. “ artes de viver” “filosofias de vida” . a principal preocupação dos filósofos é proporcionar aos indivíduos desorientados alguma forma de paz de espírito, alguma forma de felicidade interior.
Entre as novas tendências que surgiram, registramos a fundação de escolas filosóficas como:
O estoicismo – de Zenão de Cítio (336-263 aC.), Os estóicos, defendiam uma atitude de completa austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo termo grego apathéia (apatia), era alcançar uma serenidade diante dos acontecimentos.
O epicurismo – de Epicuro (324-271 aC.), propunha a idéia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida., pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. O supremo prazer seria de natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer, mas que não diferencia os tipos de prazeres.
O pirronismo – de Pirro de Elida (365-275 aC.), Nenhum conhecimento é seguro, tudo é incerto, o pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena. O pirronismo é considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da verdade absoluta;O cinismo – o termo cinismo vem do grego kynos, que significa “cão”, e designa a corrente dos filósofos que se propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o” Sócrates demente”, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme os princípios que considerava moralmente corretos.

Aristóteles de Estagira


Do nascimento da lógica à ordenação do universo.

O ser se exprime de muitos modos, mas
Nenhum modo exprime o ser.
O ser se diz em vários sentidos. Aristóteles.

Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles (384-322 aC.), foi um dos mais importantes filósofos gregos de Antiguidade. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe sua genial contribuição, que influenciou decisivamente, a história do pensamento ocidental.
Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, herdou do pai o interesse pelas ciências naturais. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de vinte anos.
Com a morte de Platão, a destacada competência de Aristóteles o qualificava para assumir a direção da Academia. Seu nome foi preterido por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.
Decepcionado com o episódio, deixou a Academia Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345aC. Foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia para ser professor de seu filho Alexandre. O relacionamento de Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império Macedônico, 340 aC.
Por volta de 335 aC. Aristóteles regressou a Aténs, fundando sua própria escola filosófica.que passou a ser conhecida como Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lício.
Em 323 aC. Após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação co a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido, foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” ( a primeira vez teria sido com Sócrates.
Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão cientifica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio.

Da sensação ao conceito: O discípulo discorda do mestre

Segundo Aristóteles, a finalidade básica das ciências seria desvendar a constituição essencial dos seres, procurando defini-la em termos reais. Reconhecia a multiplicidade dos seres percebidos pelos sentidos. Assim, tudo o que vemos, pagamos, ouvimos e sentimos é aceito como elemento da realidade sensível.
Rejeitava a teoria das idéias de Platão. Para Aristóteles, a observação da realidade leva-nos à constatação da existência de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são captados por nossos sentidos.
Partindo dessa realidade sensorial – empírica- a ciência deve buscar as estruturas essenciais de cada ser. Em outras palavras, a partir da existência do ser, devemos atingir a
sua essên cia, através de um processo de conhecimento que caminha do individual e específico para o universal e genérico.
O objeto próprio das ciências é a compreensão próprio das ciências é a compreensão do universal, visando o estabelecimento de definições essenciais, que possam ser utilizadas de modo generalizado.
A Indução (operação mental que vai do particular para o geral), representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento.
Assim, por exemplo, o conceito escola – ou qualquer conclusão cientifica sobre esse conceito – foi elaborado tendo como base a observação sistemática das diferentes instituições às quais se atribui o nome de escola. Dessa maneira, o conceito escola tem sentido universal porque, reúne em si a estrutura essencial aplicável ao conjunto das múltiplas escolas concretas existentes no mundo.

A nova interpretação para as mudanças do ser

Aristóteles, propôs uma nova interpretação ontológica, (relativa ao estudo do ser), segundo a qual em todo ser devemos distinguir:
O ato – A manifestação atual do ser aquilo que já existe;
A potência – As possibilidades do ser (capacidade do ser), aquilo que ainda não é mas pode vir a ser.
Conforme Aristóteles, o movimento e a transitoriedade ou mudança das coisas se resumem na passagem das potencia para o ato.
Exemplo: a árvore que está sem flores pode tornar-se, com o tempo, uma árvore florida.
Por outro lado, utilizando ainda o exemplo da arvore, pode acontecer que em virtude de
certas condições climáticas, uma árvore frutífera não venha a dar frutos. Esses casos, Aristóteles classifica como um, acidente. Algo que não ocorre sempre, somente às vezes, por uma casualidade qualquer , a falta de chuva ou o excesso de calor.
Assim, segundo Aristóteles , devemos distinguir também em todos os seres existentes:
A substancia – aquilo que é estrutural e essencial do ser.
O acidente – aquilo que é atributo circunstancial e não essencial do ser.
A substancia corresponde àquilo que mais intimamente o ser é em si mesmo. Os acidentes pertencem ao ser, mas não são necessários para definir a natureza de cada ser.

O que determina a realidade de um ser: a causa

A investigação do ato e da potencia do ser depende, no entanto, de alguns esclarecimentos sobre a causalidade. Isto porque essa passagem da potencia para o ato não se dá ao acaso ela é causada.
Aristóteles emprega o termo causa em sentido bastante amplo, isto é, no sentido de –tudo aquilo que determina a realidade de um ser.distingue, assim quatro tipos de causas fundamentais
Causa material – refere-se à matéria de que é feita uma coisa. Ex; o mármore utilizado na confecção de uma estatua;
Causa formal – refere-se à forma à natureza especifica, à configuração de uma coisa, tornando-a “um ser propriamente dito”, ex:uma estátua de forma de homem e não de cavalo.
Causa eficiente – refere-se ao agente que produziu diretamente a coisa.ex:o escultor que fez a estátua.
Causa final – refere-se ao objetivo,à intenção, à finalidade ou à razão de ser de uma coisa. Ex: o escultor tinha como finalidade exaltar a figura do soldado ateniense.
A causa formal está diretamente subordinada à causa final, pois a finalidade de uma coisa determina o que os seres efetivamente são. A potencia, em si mesma. Não é capaz de formalizar o ser em ato. Para que se dê essa passagem, é preciso a intervenção de um agente transformador,(causa eficiente), guiado por uma finalidade (causa final).
É pela causa final, em última instancia, que as coisas mudam, determinando a passagem da potência para o ato.

A felicidade do homem

Para ser feliz, o homem deve viver de acordo com a sua essência, isto é, de acordo com a sua razão, a sua consciência reflexiva. E, orientando os seus atos para uma conduta ética, a razão o conduzirá à prática da virtude. Para Aristóteles, a virtude representa a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta de um atributo qualquer. Ex; a virtude da prudência é o meio termo entre a precipitação e a negligencia; a virtude da coragem é o meio termo entre a covardia e a valentia insana; a perseverança é o meio termo entre a fraqueza de vontade e a vontade obsessiva.

Platão de Atenas : Das aparências ao mundo das idéias perfeitas


Os males não cessarão para os homens
Antes que a raça dos puros e autênticos
Filósofos cheque ao poder. Platão

Nascido em Atenas, Platão (427-347 aC.), pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “ de ombros largos”.
Platão foi discípulo de Sócrates, a que considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens” empreendeu inúmeras viagens, num período que ampliou sues horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas.
Por volta de 387 aC. Retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia nos jardins construídos por seu amigo.Academus. uma espécie de universidade pioneira dedicada à pesquisa cientifica e filosófica, além de se tornar um centro de formação política.
A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos –diálogos socráticos- escritos Poe ele mesmo, Platão.
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão, é sua teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da – passagem progressiva- do mundo das –sombras e aparências-para o mundo das –idéias e essências- .

O método Dialético de Platão

A primeira etapa do processo de conhecimento é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. Essas impressões sensíveis são responsáveis pela –opinião- que temos da realidade. A opinião representa o saber que temos sem tê-lo procurado metodicamente.
O metido proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a –dialética-.
Consiste a dialética, na contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação desta tese, com o objetivo de purifica-la dos erros e equívocos.
A opinião, nasce da percepção da aparência e da diversidade das coisas.
O conhecimento, por sua vez, é elaborado quando se alcança a idéia, que rompe com as aparências e a diversidade ilusória.
Nesse mundo das idéias só podemos entrar, segundo Platão, através do conhecimento racional, cientifico ou filosófico.
Mundo sensível e mundo das idéias

No mundo das idéias, é que moram os seres totais e perfeitos; a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria, etc.
Fora do mundo das idéias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte de ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.
A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de concilias as duas grandes tendências anteriores; a da filosofia grega; a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito.
Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, da essência e da realidade pura.

A República, o Rei filósofo
A Filosofia no poder – os Reis Filósofos

Na juventude, Platão alimentou os ideal de participação política em Atenas. Depois se desiludiu com a democracia ateniense. Abraçando a filosofia, adotou um novo ideal: foi então levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida publica e privada.
Para Platão, somente os filósofos, eternos amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria. Pó isso, no seu livro –A república- ,imaginou uma sociedade ideal, governada por –Reis Filósofos- . Pessoas capazes de atingir o mis alto conhecimento do mundo das idéias, que consiste na idéia do –bem- .

Sócrates de Atenas: o homem que sabia perguntar


Ele supõe saber alguma coisa e não sabe,
Enquanto eu, sei não sei, tampouco suponho saber,
Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente
Por não supor que saiba o que não sei. Sócrates.

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399aC.), é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados de pré Socráticos. O próprio Sócrates, porém, não deixou nada escrito,e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, dando demonstração de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento, o saber ao fazer a consciência intelectual à consciência prática ou moral.
Sócrates opunha-se ao relativismo em relação à questão da moralidade ao uso da retórica para atingir interesses particulares.
Sócrates travou uma polêmica profunda, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas. ( O que é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça?).
A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é essência do homem? Ele respondia dizendo que o homem é a sua alma, entendo-se “alma” aqui, como a sede da razão, o nosso eu consciente, que inclui a consciência intelectual moral, e que, portanto, distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza.
Por isso, auto conhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no Oráculo de Delfos, era a recomendação básica feita por Sócrates e seus discípulos.
Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus inter locutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

A ironia

No grego ironia, quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus inter locutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é bom? O que é justiça? E a coragem? E a piedade?
Novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos o orgulho, a arrogância, e a presunção do seu saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “sei que nada sei”, dizia Sócrates.
A ironia socrática tinha um caráter purificador porque levava os discípulos confessarem suas próprias contradições e ignorâncias.

A Maiêutica

Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias.
Na segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudas seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Essa fase do diálogo socrático, era chamada de maiêutica, termo grego que significa: arte de trazer á luz.

Um corruptor da juventude

Sócrates não dava importância à posição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas de cada pessoa.
Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava o ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas sem fazer distinções de classe ou posição social.
Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome). Diante de seus juízes, Sócrates assumiu uma postura viril,altaneira, imperturbável, de que nada teme.
Foi assim, que Sócrates procurou caracterizar sua vida; construindo um personalidade corajosa e guindo sua conduta pelo seu critério de justiça. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais.

Górgias de Leontini: O grande orador


"O bom orador é capaz de convencer qualquer
Pessoa sobre qualquer coisa". Górgias


Górgias de Leontini ( 487-380 aC.), considerado um dos grandes oradores da Grécia. Aprofundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de defender o ceticismo absoluto. Afirmava que:
A)- Nada existia;
B)-se existisse, não poderia ser conhecido;C)-Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a mingúem.

Protágoras de Abdera: O homem como medida


"O homem é a medida de todas as coisas;
Daquelas que são, enquanto são; e daquelas que
Não, enquanto não são". Protágoras.


Nascido em Adbera, cidade litorânea entre a Macedônia e a Trácia, Protágoras (480-410 aC.), é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como principio básico de sua doutrina a idéia de que o homem é a medida de tudo o que existe. Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. Todo verdade seria relativa a determinada pessoa, grupo social ou cultura.

SOFISTAS: os primeiros mestres na arte da argumentação

O período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação tinha, um cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo manifestada na procura de um principio primordial (arché) para todas as coisas existentes. Seguiu-se a esse período um nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade.
Essa nova fase foi marcada, no início pelos sofistas.
Sofista –significa “sábio” entretanto, com o decorrer do tempo , ganhou o sentido de “impostor”, devido sobretudo, às críticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Davam aulas de eloqüência e de sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios.
As lições dos sofistas tinham como objetivo, o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam, todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Nem heróis nem vilões
Foi devido a Platão que se considerou a sofística, uma atitude viciosa do espírito, uma arte de manipular raciocínios, de produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade.
O relativismo, fundamenta-se numa concepção flexível sobre os homens, a sociedade e a compreensão do real.
Para os sofistas, as opiniões humanas são infindáveis, diversas e não podem ser reduzidas a uma única verdade. Não existem valores ou verdades absolutas. É importante lembras que não existe uma doutrina sofística única. O que há são alguns pontos comuns entre as concepções de certos sofistas, como Protágoras, Górgias e outros.

Demócrito de Abdera: O átomo como explicação da diversidade


"O homem, um microcosmo". Demócrito

Nascido em Abdera, Demócrito (460-370 aC.), foi discípulo de Leucipo, e um pensador brilhante.
Responsável pelo desenvolvimento do atomismo. Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas forma chamadas de átomos, termo grego que significa, “não divisível “. A negação;tomo= divisível.
Além dos átomos, existiria no mundo real o vácuo, que representaria a ausência de ser (o não-ser). Devido à existência do vácuo, o movimento do ser torna-se possível. O movimento dos átomos permite infinita diversidade de composições. Demócrito distinguia três fatores básicos para explicar as diferentes composições dos átomos:
Figura – a forma geométrica de cada átomo.
Ordem – a seqüência espacial dos átomos de mesma figura.
Posição – a localização espacial dos átomos.
Para Demócrito, é o acaso ou a necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível é determinado entre causas. As infinitas possibilidades de aglomeração dos átomos explicam a infinita variedade de coisas existentes.
A principal contribuição trazida pelo atomismo de Demócrito à historia do pensamento é a concepção mecanicista. Segundo a qual, tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade. Isto é, nada nasce do nada, nada retorna ao nada. Tudo tem uma causa.

Empédocles de Agrigento: A unidade de tudo aquilo que se ama

Nascido em Agrigento (ou Acragas), sul da Sicília, (490-430 AC.), Esforçou-se por concilias as concepções de Parmênides e Haráclito.
Defendia a existência de quatro elementos primordiais que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água, o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
Amor (philia em Grego), responsável pela força de atração
Ódio (neikos, em Grego), responsável pela força de repulsão.Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.

Zenão de Eléia

"O que se move sempre está no mesmo agora". (Zenão).

Discípulo de Parmênides , Zenão de Eléia (488-430 aC.), elaborou argumento para defender a doutrina de seu mestre, pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória.
O paradoxo de Zenão, que se refere à corrida de Aquiles com uma tartaruga.
Dizia Zenão:a)- Se, na corrida, a tartaruga saísse à frente de Aquiles, para alcança-la ele precisaria percorrer uma distancia superior à metade da distancia inicial que os separava no começo da competição.
b)- Entretanto, como a tartaruga continuaria se locomovendo, essa distancia, por menor que fosse, teria se ampliado. Aquiles deveria percorrer, então, mais da metade dessa nova distancia.
c)-A tartaruga, contudo, continuaria se movendo, e a tarefa de movendo, e a tarefa de Aquiles se repetiria ao infinito, pois o espaço pode ser dividido em infinitos pontos.
É evidente que os argumentos de Zenão não correspondem à realidade. Entretanto, esses argumentos demonstram as dificuldades por que passou o pensamento racional para compreender conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito.

Parmênides de Eléia

"O ente é; pois é ser, e nada não é" (Parmênides)

Nascido em Eléia, na Magna Grécia, litoral oeste da península Itálica, Parmênides ( 510-470 aC. Aproximadamente), tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Platão o chamava de Grande Parmênides.
Parmênides defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito.
Segundo Parmênides, o caminho das essência nos leva a concluir que na realidade:
a) – existe o ser, e não é concebível sua não existência;
b) – o ser é; o não ser não é
Em vista disso, Parmênides é considerado o primeiro filosofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não contradição.
Ap refletir sobre o ser, pela via de essência, o filosofo eleático concluiu que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa seria a via da verdade pura.
Assim na concepção de Parmênides, Heráclito teria percorrido o caminho das aparências ilusórias.
Mas, o filosofo sabia que é no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem seu cotidiano. Então, “ o mundo da ilusão não é uma ilusão de mundo”, mas uma manifestação da realidade que cabe à razão interpretar, explicar e compreender, até que alcance a essência dessa realidade. Não podemos confiar nas aparências, nas incoerências da visão enganadoras. O esforço de toda sabedoria é para Parmênides, sistematizar isso, tornar pensável o caos, introduzir uma ordem nele.

Os homens vivem, seu cotidiano no mundo da
Ilusão, das aparências e das sensações.

Heráclito de Éfeso: o movimento perpétuo do mundo


Tudo flui, nada persiste,
Nem permanece o mesmo.

O ser não é mais que o
Vir a ser . (Heráclito)

Nascido em Éfeso, cidade da região Jônica. Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré socráticos. A data de seu nascimento e a de sua morte não conhecidas. Há referencias históricas de que, por volta do ano 500 aC. Estava em plena “flor da idade”.
Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico. Em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista ( de movimento ). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc.Assim, afirmava que “ a luta ( guerra) é a mãe, rainha e principio de todas as coisas “. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
Atribuem-se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e a movimentação das coisas, o constante vir a ser , a eterna mudança, também chamada devir.
Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante.não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.
Assim Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres. Heráclito de Éfeso , acreditava que a luta dos contrários formava a unidade do mundo.